domingo, 21 de setembro de 2014

Café Europa Radio Show #133, Interview w. Gerhard Hallstatt (Allerseelen) @ Entremuralhas'14

01. THE JOY OF NATURE - "The Girl With The Razor Waiting By The Sea" (PT) (two leaves left - 2014)
02. THE JOY OF NATURE - "The Locked King" (PT) (two leaves left - 2014)
03. THE JOY OF NATURE - "The Boy With The Gun Waiting By The Sea" (PT) (two leaves left - 2014)
04. SAGITTARIUS - "Musa" (GER) (v.a.mit fester hand - 2011)
05. ALLERSEELEN - "Edelweiss" (AUT) (edelweiss - 2005)
06. GERHARD HALLSTATT (ALLERSEELEN) interview w. CAFÉ EUROPA part I
07. ALLERSEELEN - "Feuervogel" (AUT) (stirb und werde - 1999)
08. ALLERSEELEN - "Auf Alten Seltnen Wegen" (AUT) (hallstatt - 2007)
09. GERHARD HALLSTATT (ALLERSEELEN) interview w. CAFÉ EUROPA part II
10. ALLERSEELEN - "Gondelwerkstatt" (AUT) (venezia - 2001)
11. ALLERSEELEN - "Die Klänge" (AUT) (rauhe schale - 2010)
12. ALLERSEELEN - "Cordon Dorado" (AUT) (edelweiss - 2005)
13. DER ARBEIT - "Flama" (ARG) (v.a.mit fester hand - 2011)
14. CHANGES - "Don Quixote" (USA) (men among the ruins - split w. Allerseelen - 2006)
15. DARKWOOD - "Caucasian Tales" (GER) (ins dunkle land - 2009)
16. DARKWOOD - "Silence At Night" (GER) (schicksalsfahrt - 2013)
17. TERRA OCA - "Dark Chaos" (PT) (v.a. dark ambient vol. 4 - 2012)
18. THE LEGENDARY PINK DOTS - "Chemical Playschool 16 Part 1"(GB/NED) (chemical playschool volumes 16 & 18 - 2014)
Chegados ao terceiro dia do Entremuralhas, depois de uma muito bem conseguida jornada na véspera, estes vossos repórteres de serviço ao Café Europa estavam mais que motivados para os três concertos do cartaz que mais diretamente lhes diziam respeito, no cumprimento isento das suas funções. A saber: os Darkwood, os resilientes Legendary Pink Dots e, mais especificamente, o dos austríacos ALLERSEELEN. Depois de outra prestação memorável, apenas comparável à de Andrew King no dia anterior, e após uma boa meia hora de descanso dos artistas, subimos de novo à ala da varanda Real do Castelo de Leiria, a única vez nesta edição do Entremuralhas. No ano anterior tínhamos aí entrevistado Lloyd James dos Naevus, assim como os italianos Roma Amor. Recolhidos nas salas adjacentes, pela simples razão de que as mesas aí existentes em 2013, tinham sido retiradas, escolhemos a vista sobre Leiria, junto a uma das janelas envidraçadas, com dois bancos de pedra em cada lado.
Allerseelen
Connosco estavam Gerhard Hallstatt e a sua nova secção rítmica nos ALLERSEELEN, a baterista Kriestin e a baixista Noreya. Logo que sentados em bancos de espuma de uma conhecida marca de cidra, os mentores desta entrevista praticamente saltaram para esta conversa com o autoproclamadamente galante gesto de primeiro salientar e apresentar as novas integrantes dos ALLERSEELEN. Risos e piadas à parte, mesmo que o ridículo da situação desse mote de boa disposição, relembrámos apenas o nosso percurso de conhecimento da música dos ALLERSEELEN, desde os tempos de uma anterior encarnação do Café Europa, em que descobríamos nas compilações “The Pact” um velho tema de 1999, e anos mais tarde, já no século XXI, nos reencontrássemos perto de Sintra, no auditório do Museu Etnográfico de São Miguel de Odrinhas, para a apresentação ao vivo do duplo álbum “Flamme”, disco marcante na totalidade da discografia do grupo. A partir dessa noite de 1º de Novembro de 2003, os futuros membros do Café Europa encetaram um longo trabalho de pesquisa, focado sobretudo na recuperação do catálogo de fundo da discografia ALLERSEELEN. Há três anos, Gerhard esteve em Aveiro, acompanhando os Àrnica num inesquecível concerto numa conhecida sala no centro da cidade, passagem que ficou marcada também pela calorosa saudação dos intervenientes. Cem anos depois dos factos de guerra, parece que nos continuamos a encontrar “on the road”.
Avançando para as questões, parece que os ALLERSEELEN refrearam recentemente o seu ímpeto de lançamentos que caracterizou grande parte da primeira década de 2000 – o último de originais, “Rauhe Schale” foi já lançado em 2010! Estaremos já próximos de ter notícias dos ALLERSEELEN na frente de gravação? Gerhard confirma que têm estado muito ocupados com trabalhos de estúdio para o próximo disco de originais que deverá sair em 2015, com o título de “Terra Incognita”, e para o qual já gravaram sete temas, faltando trabalhar em três mais, que estarão prontos no outono ou inverno, O lançamento está previsto para a primavera ou final da primavera do próximo ano.
A nova secção rítmica será uma das novidades absolutas em gravações de estúdio com os ALLERSEELEN; o baixo de Noreya já está misturado nos temas gravados, faltando agora a gravação dos tambores de Kriestin; no passado, os registos do grupo usavam outro tipo de percussão e vai ser necessário incorporar o som dos tambores na sua sonoridade característica. Para eles tem sido um novo passo e um desafio, assim como o será para o ouvinte de ALLERSEELEN. Uma aventura, já que o grupo começou há muitos anos como um projeto solo; Gerhard confessa que sempre foi muito individualista, no modo de fazer muitas coisas só à sua maneira. No decurso do tempo, enquanto se processavam mudanças, fazer digressões com pessoas reais (assim como gravar discos) torna-se algo de muito próximo, conhece-se melhor as pessoas, mas essa mudança pode estar de acordo com o título do próximo álbum – ainda é tudo “Terra Incognita”. Não é como se os ALLERSEELEN estivessem a fazer a mesma coisa há anos – e remete-nos a questão – estivemos a vê-los há onze anos, em Odrinhas, e pode-se constatar que este final de tarde, musicalmente, foi completamente diferente. Daí ele mesmo estar curioso em relação a como o novo álbum soará, e assim sucessivamente, o que o motiva a questionar-se como soarão daqui a três ou dez anos.
Aqui impõe-se a questão sobre este recente recrutamento de uma secção rítmica inteiramente no feminino. A baixista Noreya revela que se juntou ao grupo em Junho de 2012, seguida de imediato pela baterista Kriestin. Não restando dúvidas sobre o facto de a música dos ALLERSEELEN ter sido sempre muito rítmica, e escutar duas mulheres construindo a base dessa mesma música, surge como uma boa surpresa – e bem o provaram no palco das ruínas da Igreja da Pena. Noreya não o considera exótico para si, dado estar habituada a tocar anteriormente em bandas que tanto iam do jazz ao death ou black metal. Parece-lhe que enquanto mulher, nada de peculiar encontra no facto de tocar material rítmico forte em palco; e Kriestin partilha também desta opinião, acrescentando que em palco está sobretudo a cumprir o seu dever de trabalho com a banda e antes tocou igualmente em bandas semelhantes às referidas pela baixista, portanto nada de surpreendente nessa perspectiva. Em relação ao som ALLERSEELEN, gosta mesmo de, após algumas canções entrar na atmosfera e ficar numa espécie de transe. Há seis anos que conhece a música de Gerhard, que encontrou pela primeira vez na Holanda e sendo ambos austríacos, estabeleceu-se um elo entre si e fê-la interessar-se mais por ALLERSEELEN e daí passaram-se a encontrar com mais frequência até que se juntou ao grupo.
Voltando à conversa com Gerhard, tendo em conta os lançamentos recentes mais marcantes, como por exemplo “Hallstatt”, “O Barco do Vinho” e “Rauhe Schale”, será que os devemos considerar discos de transição, tendo em conta não só a sua fase mais primitiva de sonoridades mais experimentais, como também a obra “Flamme”, talvez o disco de transição mais eficaz da sua discografia? “Flamme” foi um disco muitíssimo inspirado pela Península Ibérica – nessa altura estava a passar algum tempo em Espanha e isso perpassou para a música, sendo definitivamente o disco mais hispânico dos ALLERSEELEN.
Allerseelen w Cafe Europa
É um pouco como páginas de um diário. “Hallstatt” refere-se concretamente ao topónimo da vila do mesmo nome, donde Gerhard sublinha a manifestação folclórica ancestral dos crânios pintados com flores, local de grande beleza geográfica onde passou parte da infância e onde tematicamente reuniu temas de infância, a morte, muito folclore, numa combinação muito pessoal. Mas sobretudo muito folclore. Já “Rauhe Schale” espelha o seu amor pelas montanhas e pelas paisagens altas e selvagens, tal como algumas que encontrei em Portugal, e espero muito breve revisitar esses belíssimos lugares a que os penafidelenses Sangre Cavallum gostam de chamar de “Pátria Granítica”, por isso a transcrição física de “Rauhe Schale” pode ser lida como um conceito de exterioridade, simbolicamente como se uma pessoa aparentasse ser extremamente dura por fora mas que por dentro tem um núcleo, um coração que é suave.
Kriestin e Noreya acrescentam que também acham o nosso país interessante embora talvez parecido com Espanha, apesar de as pessoas serem diferentes, para lá da língua; em Espanha são capazes de entender algumas palavras das frases em Espanhol mas connosco é mais difícil. Sublinhamos que na essência as diferenças linguísticas não são assim tão gritantes, talvez que os Portugueses tenham um acento bem mais suave e discreto que os Espanhóis que são mais extrovertidos na sua comunicação oral, falando mais, mais alto e mais rápido que nós. De resto, estas impressões não serão de admirar uma vez que ao cabo de uma semana de permanência no nosso país ainda seja cedo para alguém realizar bem as características culturais e anímicas de um povo, cada vez mais diluídas na diversidade cultural e étnica que quem nos governa tão acerrimamente defende, sabe-se lá em nome do quê!
Voltando à conversa, e já que Gerhard falou dos “nossos” Sangre Cavallum, a propósito de colaborações, estão previstas mais algumas para breve? No momento, não há para já planos para mais colaborações por isso têm tentado concentrarem-se ao máximo nas gravações enquanto ALLERSEELEN, mas há, no entanto, planos para reeditar uma gravação que está intimamente ligada à passagem por São Miguel de Odrinhas em Sintra, o há muito esgotado e lendário ep “Pedra” lançado em 2003 pela nacional Terra Fria, só que agora acrescido de mais alguns temas novos, em parceria com alguns membros de outras bandas conhecidas, mas não será uma compilação, antes um lançamento em nome de ALLERSEELEN mas com a colaboração de membro de grupos como os Changes – Gerhard confessa a sua admiração pela voz de Robert N. Taylor - em pelo menos dois temas. Sublinha que é uma altura de abertura para a essência do som ALLERSEELEN, havendo mais gente envolvida, com o acréscimo de baixo e guitarra, violino, e de de vez em quando, algumas guitarras elétricas. Aproveitamos para saudar o regresso de Robert à Europa e ao convívio das bandas folk europeias.
Allerseelen
Voltando um pouco atrás no tempo, em que ALLERSEELEN eram sinónimo de música ambiental ctónica, foi aí que começou a desenvolver-se a técnica característica de samplar pedaços de música orquestral diversa e combiná-los de forma completamente nova e imprevisível. Olhando para trás, parece que o seu trabalho, assim como de outras bandas compatriotas austríacas como Albin Julius e os Der Blutharsch ou Jürgen Webber e os Novy Svet, parece que as bandas oriundas do seu país se submeteram a um processo engenhoso de criarem novas vias para melhorar o método do ready-made. Perguntamos se ele tem essa consciência de ter sido não um pioneiro mas um inovador nessa forma de produzir a moderna música popular na Europa. Curiosamente, Gerhard parece perscrutar-nos com os olhos a propósito desta questão, o que nos leva a rematar em jeito de esclarecimento da questão, que a citação se define pelo autêntico estabelecimento de uma espécie de triângulo musical austríaco que se desenvolveu a partir dos meados da década de 90 do século passado. De repente, a sua reação denota que a nossa pergunta não tem agendas escondidas e concorda inteiramente com essa noção pretérita de triângulo de música moderna na Áustria – se calhar ainda o será. Refere que de vez em quando ainda encontra Albin mas quanto a Jürgen Webber, revela que ele desapareceu de cena. Relembramos aquele como outro austríaco fascinado pela Ibéria e pela Espanha ao que Gerhard contrapõe que não só a Ibéria mas sim toda a expressão românica, que se aplica inclusive a alguns povos eslavos, concretamente nesse conceito de destino (afinal de contas, pensamos nós, outra extensão da nossa ideia de Fado). Ele próprio ainda tem algum sangue eslavo e os ALLERSEELEN têm um pouco mais de dificuldade em se inserir nessa veia do destino, mas nunca se demitem de visitar a Europa de Leste, onde têm tocado um pouco por toda a parte. De resto Gerhard acha curiosos que sob o ponto de vista Português, os vejamos aos três como um triângulo de influências; aliás, reforça que apesar dessa diferença, não vê aí qualquer contradição. A essência do espírito musical de ALLERSEELEN sempre teve a ver com zonas remotas dos países, quer sejam numa zona de aldeias serranas em Portugal, ou qualquer aldeia perdida nos Alpes italianos, ou nalguma distante zona rural na Bulgária. Nunca viu grandes diferenças culturais, folclóricas e tradicionais em terras e gentes como estas que refere. Sempre aí encontrou gente a amar a sua terra, portanto a Cultura, a Natureza, e é por isso que um dos seus grupos favoritos de Portugal são os Sangre Cavallum, dos quais espera ver em breve algo de novo editado.
Allerseelen
Quais são os seus sentimentos em relação ao cruzamento de uma abordagem mais telúrica presente na sua música, com um o uso de material digital atual, dentro do contexto de uma filosofia neotradicionalista? Haverá aí algumas contradições em termos formais ou conceptuais aí? Gerhard responde que o que mais há de excitante neste tipo de música serão as contradições, porque se alguém ou alguma banda segue uma linha única e inalterável de criação, vai entrar em rota de contradição com a natureza humana, que nunca é unidimensional –é pelo menos tridimensional, e isso sabe-o através da sua música e pelos seus acompanhantes. Todos têm interesses diversos e por vezes é quase como se dentro de cada um houvesse três ou quatro pessoas diferentes e usam essa quase desordem de múltipla personalidade para criar música. É sempre útil para o músico aproveitar essas mesmas contradições, como por exemplo os pontos de vista masculino e feminino. Aproveitando a deixa, fica a pergunta se será possível em breve que as novas recrutas nos ALLERSEELEN também dêem o seu contributo de composição? Noreya refere que de momento ainda não se proporcionou mas nunca se deve dizer nunca. Esta ideia parece-nos tão mais significativa, dado ser este outro período transicional na vida e música dos ALLERSEELEN. Gerhard concorda, acrescentando que tudo se inclui num processo constante de inspiração emanado das pessoas e dos locais onde vão tocando, tal como por exemplo se sente inspirado até pelas perguntas que lhes fazemos. Há dois anos ainda não faziam ideia como o futuro álbum “Terra Incognita” soaria junto das pessoas, mas hoje tiveram a oportunidade de o confirmar e por isso estão mais confiantes sobre o futuro.
Gerhard Hallstatt (Allerseelen) w Cafe Europa
Já que falámos nos Sangre Cavallum, parece óbvio que a experiência musical no álbum “O Barco do Vinho” foi mesmo muito bem-sucedida; mais tarde, sucedeu o mesmo com os norte-americanos Blood Axis no duplo álbum “Born Again”; na sua opinião, o que se passará com essa banda Portuguesa e com a sua base geográfica, que parece ser tão aliciante para projetos internacionais colaborarem com eles? Com os Sangre Cavallum, Gerhard partilha o amor pela pré-história, pelas paisagens rurais e montanhosas arcaicas, assim como naturalmente pela simpatia pessoal e por isso tratou-se de uma colaboração deveras interessante, traduzida pelo acabamento final de “O Barco do Vinho”. Refere ainda as viagens pelas zonas de interesse monolítico à volta de Penafiel e nas restantes paragens do Norte de Portugal, onde viu os seus favoritos espigueiros e onde também encontrou Johann Aernus dos Karnnos, todos boa gente pelos quais adorou conhecer melhor essas paragens portuguesas, e onde decidiram fazer um trabalho conjunto inspirado pelo vinho. Viajou também pelo Sul, nomeadamente no Alentejo, onde visitou os cromeleques de Almendras, embora não conhecesse tanto como a norte, mas gostou bastante. E no decurso desta conversa, Gerhard relembra que em princípio iá regressar a Portugal já em Novembro, de novo com os amigos hispânicos Àrnica, e de novo na cidade do Café Europa, na mesma sala junto à ria, onde já atuaram em conjunto. A segunda boa razão para regressar a Portugal é o convite que teve de amigos em Colares, Sintra, para fazer uma exposição das suas fotografias numa galeria, fotografias essas subordinadas ao tema da ferrugem, uma das suas palavras de sonoridade favorita na língua portuguesa. São fotos relacionadas com a estação outonal, focando paisagens que conotam a ideia de ferrugem por analogia com os tons de outono.
Darkwood
Voltando aos lançamentos de discos, cada vez que os ALLERSEELEN lançam uma compilação, sugerem deveras sentir um grande respeito pelo ouvinte e combinam o alinhamento dessas mesmas coletâneas de uma forma que mais parece um novo álbum, repescando não só os temas fulcrais de álbuns que marcaram uma época, mas indo buscar material esquecido ou até mesmo inédito. Não é comum tal atenção e parece ser o sinal de uma mente engenhosa. A sua escolha variada deriva do facto de ser muito autocrítico com as suas canções, ou de ter uma canção que mesmo arredada no tempo teve uma mistura com pormenores interessantes e por isso merece figurar entre outras menos conhecidas, eliminando a possibilidade para outras das quais não gosta assim tanto. Relembramos o caso do álbum “Cruor”, que aparece na listagem oficial como uma compilação de material antigo, mas o qual na altura da sua reedição em vinil parecia mais um disco de originais. Gerhard admite gostar mais da versão em cassete, por ser mais pura; era uma recolha baseada nas gravações em cassete, mas somente o formato em fita mantinha essa essência mais tradicional. De qualquer modo está longe de ser uma das suas preferências em relação ao seu trabalho propriamente dito. Já em relação a “Edelweiss”, aponta para material bem mais novo, feito com uma inspiração italiana, mas não deixa de ser uma compilação. Aos nossos olhos e ouvidos, todos estes discos acabam por ganhar um estatuto próprio que lhes confere um estatuto de álbum e não de mera recolha de material avulso ou previamente editado. Uma marca de água dos ALLERSEELEN.
The Legendary Pink Dots
Photos by : AF
Interviews Photos by: JV
Mudando mais uma vez de assunto, e a propósito de uma experiência pessoal em tempos realizada numa viagem ao castelo cátaro de Montségur no Sul de França, na região de Ariège, relatamos o nosso interesse em descobrir os escritos do investigador alemão Otto Rahn, os quais posteriormente acabámos por comparar aos de Gerhard, nomeadamente na recolha dos cadernos Aorta que viu a luz da publicação, sob a forma do livro Blutleuchte. Nessa altura chegámos à conclusão de que ele poderia muito bem-estar qualificado para seguir em frente escrevendo na mesma veia e áreas temáticas que o malogrado oficial da Ahnenherbe, capaz de dar seguimento aos temas da Tradição que permanecem ocultos para grande parte da consciência europeia. Vai haver sucessor para Blutleuchte? O seu plano é o de um dia publicar os seus diários de viajem – uma vez que é essencialmente um músico viajante, dá-se ao trabalho de estar sempre a tomar notas sobre os sítios por onde passa, e daí que talvez inclua também algumas das suas fotografias, ou mesmo um cd, para completar um gesamt kunstwerk agradável sob todos os ângulos, combinando texto, música e fotografias. Mas deverá ainda levar algum tempo – de momento está mais interessado em somente gravar música; ainda gosta de escrever mas presentemente a música é o seu grande prazer.
E para encerrar esta longa conversa, uma questão final para as duas mulheres da secção rítmica – o que acham do Castelo de Leiria, do festival, do concerto e concretamente da organização da Fade In; Kriestin confessa gostar imenso deste castelo e quando soube que aí tocaria ficou bastante bem impressionada, e ainda mais quando tomou conhecimento in loco do local exato do concerto – as ruínas da Igreja da Pena, que achou maravilhosa. Quanto à organização, foi boa – é gente sempre muito ocupada, trabalhadora, mas permanecem tranquilos, uma qualidade que realmente aprecia, são muito prestáveis, fornecendo sempre as informações a tempo e mostrando que estão sempre lá para apoiar os músicos em tudo aquilo que desejarem. Noreya concorda, dizendo que estão na verdade a fazer um bom trabalho e que o podem continuar a fazer por mais dez ou vinte anos. Adora castelos antigos por formação profissional, já que é também historiadora e arqueóloga, e os castelos medievais são, para ela, fundamentais, porque os tem de visitar por toda a Europa. Por isso é como regressar a casa!
Fica então a hipotese de revermos os Allerseelen a 15 de Novembro em Aveiro na sala que Gerhard referiu durante a entrevista, num concerto em que se reunirá aos Àrnica, repetindo a façanha de há três anos. Neste longo rescaldo do festival Entremuralhas, terminado já há praticamente três semanas, ficam as memórias dum excelente concerto e entrevista com os lendários ALLERSEELEN.













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