domingo, 23 de agosto de 2015

Café Europa Radio Show #166 - Cafe Europa apresenta: Festival Entremuralhas 2015

01. PHANTOM VISION - "Rest in Pieces" (POR) (instinct - 2005)
02. TYING TIFFANY - "Wake Up" (ITA) (undercover - 2005)
03. TYING TIFFANY - "One Girl" (ITA) (drop - 2014)
04. LENE LOVICH - "What Will I Do Without You" (GBR) (flex - 1979)
05. LENE LOVICH - "It's You, Only You (Mein Schmerz)" (GBR) (no man’s land - 1982)
06. JORDAN REYNE - "Birds Of Prey" (NZL) (birds of prey - 1997)
07. JORDAN REYNE - "The Narcissus" (NZL) (the annihilation sequence - 2013)
08. KELUAR - "Detritus" (GER) (ennoea e.p. 12" - 2013)
09. 6 COMM - "Calling" (GBR) (…. recoil – compl. - 2001)
10. 6 COMM - "Content With Blood" (GBR) (…. recoil – compl. - 2001)
11. MOTORAMA - "Empty Bed" (RUS) (empty bed - 2011)
12. MOTORAMA - "Ship" (RUS) (alps - 2010)
13. [:SITD:] - "Hurt" (GER) (stronghold - 2003)
14. IGORRR - "Grosse Barbe" (FRA) (hallelujah - 2012)
15. IGORRR - "Tendon" (FRA) (nostril - 2010)
16. A DEAD FOREST INDEX - "Distance" (NZL) (antique - e.p. - 2010)
17. A DEAD FOREST INDEX - "Cast Of Lines" (NZL) (cast of lines - e.p. - 2014)
18. ASH CODE - "I Can't Escape Myself (The Sound cover)" (ITA) (empty room - e.p. - 2014)
19. ART ABSCONS - "Liliensonne" (GER) (der verborgene gott - 2010)
20. ART ABSCONS - "Parzival" (GER) (les sentiers éternels - 2012)
21. ART ABSCONS - "Gently Does It (by Enharmonic)" (GER) (travelling with ukulele - 2014)
22. AND ALSO THE TREES - "Gone... Like The Swallows" (GBR) (virus meadow - 1986)
23. AND ALSO THE TREES - "Candace" (GBR) (when the rains come - 2009)
24. LAIBACH - "Warszawskie Dzieci" (SLO) (1 VIII 1944 warszawa – e.p. - 2014)
25. LAIBACH - "Under The Iron Sky" (SLO) (live at tate modern - monumental retro-avant-garde - 2012)
26. LAIBACH - "The Whistleblowers" (SLO) (spectre - 2014)
27. AGENT SIDE GRINDER - "Die To Live" (SWE) (irish recording tape - 2009)

27 AGOSTO:
PHANTOM VISION – 22h00 – palco corpo
A 27 de agosto, primeira noite do festival, decorre inteiramente no palco corpo, no recinto da entrada do castelo e teremos a abrir a representação nacional deste ano a cargo dos lisboetas PHANTOM VISION.
Formados em 2000 são, irrefutavelmente, a mais importante banda “batcave” da cena nacional, no activo. A sua música, resultante de assumidas influências de post-punk, goth-rock, psychobilly, darkwave e do underground dos anos 80, tem tanto de sorumbática como de empolgante, prestando-se, quase sempre, a estabelecer uma fórmula que a torna dançável. Pedro Morcego, figura iconográfica da cena alternativa nacional, é a voz que nos guia por entre catacumbas sombrias, recantos húmidos, teias de aranha gigantes, strobes incandescentes, demónios e caveiras, ossos e carne putrefacta… O timbre que nos revela estes devolutos cenários de fantasias lúgubres, tem tanto de grave como de aveludado, e é uma das imagens sonoras de marca dos PHANTOM VISION. A banda completa-se com André Joaquim (músico de inúmeras bandas, entre as quais, Dr. Frankenstein e Capitão Fantasma) e James Dead (mentor do projecto Devil’s Lipstick) aos quais se junta, ao vivo, a conceituada dançarina de burlesco e danças orientais, Ágata. O universo idílico e poético que reveste a fantasiosa casta estética dos PHANTOM VISION materializou-se em quatro álbuns. O primeiro, “Nocturnal Frequencies”, foi editado em 2001 na etiqueta britânica Nightbreed Recordings. Seguiram-se em 2003 “Traces Of Solitude”, “Calling The Fiends”, no ano seguinte e, em 2005, “Instinct”, todos eles na editora germânica COP International. Ao vivo, a banda já dividiu palcos com nomes tão importantes como Uk Decay, Soror Dolorosa, Covenant, Ataraxia, Clan Of Xymox ou The Mission.

 27 AGOSTO:
TYING TIFFANY – 23h00 – palco corpo
Depois dos nacionais PHANTOM VISION sobe ao palco corpo a italiana TYING TIFFANY que estreia-se em Portugal, dez anos depois de ter editado “Undercover”  e que reflectia a sua paixão pela música industrial, punk e darkwave. Uma década e quatro álbuns depois (“Brain For Breakfast” de 2007; “People’s Temple” de 2010; “Dark Day, White Nights” de 2012; e “Drop” o seu último trabalho de 2014) a “menina rebelde” da cena transalpina apurou a estética e tornou-se numa respeitada e refinada senhora da música electrónica. Contudo, esta compositora-cantora-performer, nunca descurou o formato de canção, ao mesmo tempo que não colocou de lado a necessidade de procurar sempre um caminho estético não-conformista. O resultado é maioritariamente sofisticado mas com presença de instrumentos orgânicos como a bateria, a guitarra eléctrica ou o baixo. Talvez tenha sido o seu passado como designer, fotógrafa ou actriz, a delinear os contornos de uma personagem multidisciplinar, que tanto aborda o palco como uma rufia provocadora, como vestindo a pele da mais elegante das divas. TYING TIFFANY tem um percurso invejável, embora se tenha mantido na sombra dos holofotes do mainstream. Ainda assim há alguns episódios surpreendentes: dividiu palcos com nomes como Buzzcocks, Eels, The Rapture, dEUS e Iggy Pop. Andou em digressão com Alec “Atari Teenage Riot” Empire e colaborou com Nic Endo (também dos ATR) ou com o mestre Pete Namlook. As suas canções foram alvo de remisturas várias, uma das quais pelos enormes Revolting Cocks – a super banda de Al Jourgensen (Ministry), Luc Van Acker e Richard 23 (Front 242). Em 2010 viu o seu tema “Storycide” ser seleccionado para rodar num dos episódios do CSI: Las Vegas, e dois anos mais tarde, “Drownin’” foi incluído na banda sonora do jogo FIFA 12 ao lado dos The Strokes, Digitalism ou TV On The Radio. No seu currículo fazem parte ainda passagens por alguns dos mais carismáticos festivais do mundo como o Wave Gotik Treffen de Leipzig, no velho continente, ou o SXSW em Austin, Texas, em terras de Tio Sam. TYING TIFFANY é uma figura que nos empolga. Temos a certeza que ela e companheiros não deixarão créditos por mãos alheias na sua aguardada passagem pelo ENTREMURALHAS 2015.

27 AGOSTO:
LENE LOVICH BAND – 00h00 – palco corpo
A fechar a primeira noite o regresso a Portugal de LENE LOVICH. Um ícone incontornável da new-wave dos anos 80 e uma figura de imagem e obra mundialmente reconhecidas. Nascida em Detroit, nos Estados Unidos, Lili Marlene Premilovich (de seu verdadeiro nome) mudou-se ainda jovem para Londres, fazendo de Inglaterra a sua pátria adoptada. Autora de um número impressionante de êxitos, alguns dos quais, como por exemplo, “"What Will I Do Without You" ou “I"t's You, Only You”, LENE LOVICH construiu um universo sonoro peculiar, fazendo uma miscigenação pop polvilhada de infuências derivadas do rock, do raggae, do ska e da synth-pop. Mas é a sua voz particularmente característica, onde se reconhecem claros trejeitos teatrais, que lhe conferem uma identidade única. De resto, não foi por acaso que outros grandes nomes mundiais quiseram, ao longo dos anos, a colaboração desta senhora de visual extravagante e exótico, casos de Tom Verlaine, Thomas Dolby, Nina Hagen, The Residents, Peter Hammil, Hawkwind ou Dresden Dolls, só para citar alguns. No ENTREMURALHAS 2015, em pleno Castelo de Leiria, LENE LOVICH será acompanhada pela sua BAND constituída por Jude Rawlins, na guitarra, Kirsten Morrison nas teclas, Valkyrie no baixo e pelo baterista Morgan King, num concerto que, certamente, nos vai pôr todos a dançar ao som de emblemáticos temas. Será, sem qualquer dúvida, histórico...

28 AGOSTO:
JORDAN REYNE – 18h00 – igreja da pena
No segundo dia do Entremuralhas já com os três em funcionamento, cabe a JORDAN REYNE é uma alma nómada, com raízes na Nova Zelândia e com a voz de mil almas dentro, estrear o palco da igreja da pena nesta edição. A sua música é, maioritariamente, uma mistura de vocalizações pagãs e celtas, erigidas com guitarra à tira-colo. Mas, por vezes, também há margem para os ritmos maquinais da “revolução industrial” que inspira algumas das suas letras, num imaginário onde nem sequer faltam as locomotivas a vapor, ornamentos metafóricos que lhe têm valido também o título de “steampunker dos antípodas”. Três vezes nomeada para os “New Zealand Music Awards”, JORDAN REYNE viu alguns dos seus discos receberem o apoio da Creative New Zealand – o equivalente nacional (se ainda houvesse…) ao Ministério da Cultura. Para além da sua já longa carreira, onde podemos descortinar seis álbuns (dois dos quais sob o heterónimo de Dr. Kevorkian & The Suicide Machine), sendo o seu primeiro álbum de 1997 “Birds of Prey”. JORDAN REYNE é ainda membro ao vivo dos The Eden House, a super banda onde pontifica, por exemplo, Tony Pettit. Aliás, o baixista dos Fields Of The Nephilim é um dos convidados de “The Annihilation Sequence”, o mais recente longa-duração de JORDAN REYNE que, curiosamente, foi misturado e masterizado por Stephen Carey. JORDAN REYNE, que também deu voz à saga “Senhor dos Anéis”, é considerada uma das mais abençoadas, talentosas e inteligentes compositoras/performers da Nova Zelândia e a crítica não lhe tem poupado elogios. A BBC, por exemplo, descreve-a como “esplêndida e colossal”, e o lendário jornalista e escritor Mick Mercer afirma que “o seu impecável timbre tem um quê de agradável malícia”. Até os frios eslovenos Laibach se renderam aos seus encantos, tendo convidado esta senhora a abrir os seus concertos na Polónia. A vinda desta “feiticeira” à Igreja da Pena do Castelo de Leiria será, por tudo isto, absolutamente imperdível.

28 AGOSTO:
KELUAR – 19h00 – igreja da pena
O segundo projeto a subir ao belíssimo palco da igreja da pena são os alemães KELUAR. A nova aventura sonora de Alison Lewis (também conhecida por Zoè Zanias), a londrina que dava voz aos extintos Linea Aspera (um dos grandes nomes da cena synth-minimal-wave revivalista europeia) e de Jonas Förster (também conhecido como Sid Lamar), multifacetado músico e produtor, e membro proeminente dos germânicos Schwefelgelb. O background da dupla envolvida em KELUAR tende-nos, facilmente, a estabelecer comparações com os trabalhos desenvolvidos anteriormente, mas desengane-se quem pense encontrar aqui qualquer tipo de continuidade. KELUAR representa uma ruptura. Os resquícios de Linea Aspera não passam disso mesmo… resquícios. A curva deu-se em direcção ao ocaso, por isso, no universo dos KELUAR a luz é muito pouca. Os ritmos são minimalistas e as melodias frias e distantes. A voz é atirada ao vento, como uma brisa que beija ao de leve, aparentemente desinteressada mas, paradoxalmente, marcante. Aqui e ali lembram-nos a de Zola Jesus, mas a voz de Zoè, apesar da sua aura gélida, consegue (imagine-se!) ser mais quente que a de Nika Danilova. De resto, no território desbravado pelos KELUAR encontramos também uma área demarcada reservada a um certo conceito exploratório, como se a banda procurasse, dentro das claras referências que os circundam, uma escapatória em direcção a uma sonoridade cada vez mais personalizada e única. O espectáculo nas ruínas da Igreja da Pena terá uma áurea que em mais lado nenhum consegue ter.


28 AGOSTO:
6 COMM – 21h00 – palco alma
Momento alto do EM2015 será, sem duvida, o concerto que os históricos 6 COMM darão no Castelo de Leiria, provavelmente, o último concerto da sua longa carreira de quase três décadas, uma vez que este foi o ano anunciado para pôr um ponto final na banda dos “mil” disfarces: Patrick Leagas, também conhecido por Patrick O-Kill, fundou os 6 COMM em 1986 depois de ter deixado os Death In June de quem foi percursionista, vocalista e membro fundador. Aliás, Patrick Leagas é a voz de algumas das mais emblemáticas canções do controverso colectivo que dividia com Tony Wakeford e Douglas P. “Torture Garden”, “Doubt To Nothing”, “Foretold”, “Caroussel”, “Born Again”, “State Laughter” ou “Calling” foram escritas nos Death In June, mas, ao longo dos anos, foram, por direito próprio, alvo de inúmeras versões e re-arranjos nos 6 COMM. E, para nosso gáudio, Leagas promete interpretar algumas delas no aguardado concerto do ENTREMURALHAS 2015. Os 6 COMM têm forte imagética militarista e a sua música pode, por vezes, ser esmagadoramente claustrofóbica, no entanto, é nos raios de luz que entram pelas friestas sonoras das suas composições que se distingue a mais fluída da suas vertentes. E aí, encontramos uma obra próxima da pop com texturas electrónicas e nuances ritualistas, elementos que advêm, por certo, das fortes influências mitológicas e mágicas que sempre timbraram Patrick Leagas. Por tudo isto, e pelo contexto específico do seu enquadramento, o concerto dos 6 COMM será, sem dúvida, mais um dos momentos marcantes da história deste festival.

28 AGOSTO:
MOTORAMA – 22h30 – palco alma
A dividir o palco alma nesta segunda noite estão os russos MOTORAMA que “voam directamente” da cidade portuária de Rostov-on-Don para o Castelo de Leiria. Na bagagem trazem repertório suficiente para brindar todos os presentes com os mais refinados temas dos seus três álbuns: “Alps” de 2010, “Calander” de 2012 e o recente “Poverty”. O quinteto dá corpo a um dos mais consolidados grupos post-punk da actualidade. Mas a sua música, onde – é verdade – se nota uma forte herança do legado Joy Division e The Sound, não se confina às cores monocromáticas características do género principal que os caracteriza. Aqui e ali, observamos pinceladas de outras cores, numa paleta que origina incursões (ténues mas notadas) ao shoegazing, à new wave e ao indie rock mais sorumbático. Talvez seja a voz de Vladislav Parshin, claramente “assombrada” pelo timbre de Ian Curtis (e, aqui e ali, até pelo de Stuart Staples do Tindersticks), que seja a responsável maior pela aura nostálgica que paira sobre a sonoridade da banda. Mesmo quando os dedilhados de guitarra nos remetem para outras temperaturas que não estamos habituados a conotar com a grande Rússia, há sempre a um baixo monocórdico e uma bateria de trejeitos graves que fazem com que nunca esqueçamos que a fronteira estética da banda está, apesar de tudo, muito bem confinada. Curiosamente, é da reputada BBC uma das frases que melhor define os MOTORAMA: “Eis uma banda sediada junto à fronteira da Ucrânia que se assemelha a um bando de nova-iorquinos a simular o som de Manchester nos anos 80. Tudo isto seria absurdo se o resultado não soasse tão sublime!”. E será isso então, que poderemos confirmar, ao vivo, em Agosto, no Palco Alma do Entremuralhas – aquele local especial, mais perto do céu…


28 AGOSTO:
[:SITD:] – 00h00 – palco corpo
Os germânicos [:SITD:] são uma das mais bem sucedidas e aclamadas bandas electro industriais da Europa. A sua sonoridade distingue-se pelas melodias e pelas nuances contemplativas das ambiencias que por vezes as acompanham. Os ritmos, tanto podem ser em mid-tempo como em velocidade acelerada, tonificados, normalmente, por sequenciadores circulares que nos fazem bater o pé e dançar. As vocalizações tanto se podem apresentar limpas como saturadas em efeitos, tendo sempre um papel fundamental na identidade do grupo. Os [:SITD:] – iniciais de Shadows In The Dark (que é uma uma expressão metafórica relativa à música e ao conteúdo lírico da própria banda) – formaram-se em 1996 e são constituídos por Carsten Jacek, na voz, Thomas Lesczenski na programação e voz secundária e o teclista Francesco D’Angelo teclas. Para além do seu numeroso espólio editorial, onde pontificam discos como “Stronghold” em 2003; “ICON:KORU” em 2011, e “Dunkelziffer” em 2014, os [:SITD:] são também conhecidos pela quantidade de remixes que já fizeram e de que são alvo. Rezam as crónicas que os seus concertos ao vivo são de grande impacto. Certo, certo é que também vão inscrever o seu nome no ENTREMURALHAS 2015 onde assumiram o compromisso de colocar todos os presentes a dançar, como aliás, manda a tradição do Palco Corpo.

28 AGOSTO:
IGORRR – 01h30 – palco corpo
O ENTREMURALHAS nunca teve, em seis edições, uma banda tão extrema como os IGORRR, que fecham o segundo dia no palco corpo.  Extrema e inventiva, acrescente-se! A estes dois adjectivos podemos, tranquilamente, juntar mais três: genial, vanguardista e portentosa. IGORRR é obra do gaulês Gautier Serre, um exímio compositor e manipulador de sons, ao qual se juntam ao vivo a vocalista Laure Le Prunerec (que com Gautier divide os não menos criativos Corpo-Mente) e o vocalista Laurent Lunoir. 2005 foi o ano de ignição desta extravagante sonoridade de ópera, música barroca, death-metal, breakcore, drum’n’bass e folclore, cujo resultado culmina numa abrasiva eloquência de contornos únicos que não deixa ninguém indiferente. Em 2010, quando IGORRR lançou “Nostril” – então o seu terceiro álbum – a aclamação da crítica foi unânime. A importante revista Les Inrockuptibles, por exemplo, colocou o disco na lista de álbuns mais importantes da cena metal ou electro, a par de bandas como Nine Inch Nails, Marilyn Manson ou Ministry. Já a Side-Line destacou a sua frescura e distância de tudo o resto editado até então. 2012 foi o ano em que IGORRR foi recrutado pelos sempre atentos e nada estanques Morbid Angel para assumir uma da remisturas do seu polémico disco “Illud Divinum Insanus”, e foi também o ano de “Hallelujah”, um quatro álbum que consolidou IGORRR como dono de um território sonoro absolutamente ímpar! A minúcia com que Gautier Serre tece a filigrana teia de sons de IGORRR faz a obra de Richard D. James parecer uma coisa de aluno e não de mestre. A prestação ao vivo de IGORRR no Entremuralhas 2015 será, certamente para todos, uma experiência sonora de contornos inolvidáveis.

29 AGOSTO:
A DEAD FOREST INDEX – 18h00 – igreja da pena
Os A DEAD FOREST INDEX, os segundo representantes da NZ nesta edição do EM, iniciam os concertos do último dia. Os A DEAD FOREST INDEX  são Formados pelos irmãos Adam Sherry, na voz e guitarra e Sam Sherry, nas teclas e bateria, aos quais se juntou, no final de 2014, Gemma Thompson, nada mais nada menos do que a guitarrista das muito aclamadas Savages. Aliás a sua relação com a banda já se materializara com a extensa digressão conjunta no ano passado e na editora comum, a Pop Noire. Antes da incursão europeia, já os A DEAD FOREST INDEX tinham aberto o concerto dos lendários Killing Joke, em Melbourne, na Austrália. A primeira coisa que nos prende aos A DEAD FOREST INDEX é a voz. Uma voz lindíssima que tanto nos remete para a profundidade de uma Nico como para o universo dramático de Billy Mackenzie dos The Associates. Mas não é só o timbre que nos fascina. As canções e a forma como são construídas e, posteriormente, desconstruídas, são uma das “imagens de marca” da banda. A música destes neozelandeses é polvilhada apenas pelo essencial. Nada aqui é supérfluo. Talvez por isso soe tão minimalista e despida, contrastando descaradamente com a enormíssima alma que a veste. “Cast Of Lines” ou “"Distance", são uma pequena amostra de que farão as ruínas da Igreja da Pena transpirar de sentidos e embalar-nos-ão na luz do crepúsculo que não tardará em chegar…

29 AGOSTO:
ASH CODE – 19h00 – igreja da pena
Os italianos ASH CODE são uma das grandes revelações da cena coldwave/darkwave-postpunk europeia. Formada em Nápoles, em Janeiro de 2014, a banda precisou apenas de alguns meses para compor os temas de “Oblivion”, álbum lançado logo a seguir ao primeiro verão da sua existência. E tem sido com esse disco que os ASH CODE têm conquistado rapidamente fãs e crítica especializada, que não lhes poupa os mais rasgados elogios. A presença dos ASH CODE no ENTREMURALHAS 2015 fará as delícias dos apreciadores de bandas como She Past Away, The Soft Moon ou She Wants Revenge, ou ainda os mais saudosos poderão fechar bem os olhos e lembrar-se de
Adrian Borland, se nos presentearem com a versão de "I Can't Escape Myself”.


29 AGOSTO:
ART ABSCONS – 21h00 – palco almaART ABSCONS é um misterioso projecto alemão liderado por uma pessoa cuja verdadeira identidade se desconhece. Este “personagem”, que se auto-intitula de Grandmaster Abscon, apresenta-se sempre por detrás de uma máscara que, para muitos, causa repulsa e medo. Mas esses sentimentos são claramente antagónicos à música de ART ABSCONS: bela, doce, atraente, mas com um “quê” de mistério. Em palco, esse desconhecido indivíduo é acompanhado por mais três mascarados que escondem as suas verdadeiras faces. Está visto, pois, que existe aqui, claramente, um conceito que, em palco, pode até ganhar contornos de melodramatismo teatral. De resto, nunca se poderia esperar “normalidade” artística a quem se diz influenciado por Death In June, por Lee Hazlewood, pela música Ye-Ye francesa dos anos 60 ou por Picasso. Confusos? Não estejam. A música de ART ABSCONS é uma espécie de neofolk cénico, com arranjos audaciosos, arestas limadas e com a inclusão de inesperados elementos de proveniências tão improváveis como a country. A voz, sempre numa toada entre o spoken-word e o cantado, é suave e discreta, mas tem uma presença que transmite a força das palavras, mesmo quando a língua em que são proferidas nos impede de as entendermos (ainda assim, é impossível não as sentirmos). A riqueza de ideias e as soluções sonoras apelativas e ao mesmo tempo “estranhas”, proliferam no universo de ART ABCONS, tornando-o num território. Será, certamente, uma das grandes surpresas para muitos dos presentes, para nós aqui no CE é um dos concertos mais aguardados.

29 AGOSTO:
AND ALSO THE TREES – 22h30 – palco almaOs ingleses AND ALSO THE TREES encerram o palco alma desta sexta edição do EM.  Formados em 1979 e são, provavelmente, os últimos sobreviventes e os legítimos herdeiros do espírito neo-romântico da geração pós-punk. A sua música melancólica, profunda e aveludada, é tecida a partir do dedilhado de guitarra único e característico de Justin Jones, ao mesmo tempo que é beijada pela voz incomparável e com alma dentro de seu irmão Simon Huw Jones. De resto, a sonoridade sorumbática do grupo, cujo primeiro álbum foi produzido em 1983 por Laurence Tolhurst (à data, baterista dos The Cure) completa-se com a intervenção de Steven Burrows, Paul Hill, Ian Jenkins e Emer Brizzolara. Curiosamente, a relação com os The Cure não foi episódica. Robert Smith, fã confesso dos AND ALSO THE TREES, tem seguido a carreira e obra da banda, materializada em dezena e meia de álbuns. Em dezembro de 2014, os The Cure voltaram a convidar os AND ALSO THE TREES para abrir mais um dos seus espectáculos, 30 anos depois de o terem feito pela primeira vez. O universo do grupo da pequena localidade de Worcestershire, inspirado nas paisagens e no ambiente rural que os circunda, transforma-se num imaginário lírico rico e elaborado, dando origem a um vasto espólio de canções que tanto apraz os fãs de Joy Division, Bauhaus e Chameleons, como delicia os de Crime And The City Solution, Tindersticks ou Nick Cave. Os AND ALSO THE TREES regressam de novo a Leiria, cinco anos depois de o terem feito, em exclusivo e pela primeira no nosso país (então num dos episódios do FADEINFESTIVAL 2010), mas desta vez para tocarem mais perto do céu… 

29 AGOSTO:
LAIBACH – 00h00 – palco corpo
Dez anos depois a FADE IN volta a fazer a vontade a muitos dos seus amigos e é com desmesurado orgulho e honra, que agenda para esta edição do EM o regresso a Leiria dos iconográficos, provocadores e inimitáveis LAIBACH – uma semana depois de fazerem história com os dois concertos que têm agendados para a Coreia do Norte.
Sintetizar em tão poucas linhas a obra e a importância desta banda é quase um crime de lesa-estado. E “Estado” é uma palavra intrínseca aos próprios LAIBACH. Para além de terem tido um papel de enorme relevância na independência da Eslovénia (o grupo, sedeado na cidade de Trbovlje, é mesmo um simbolo nacional) os LAIBACH são ainda membros fundadores da NSK – Neue Slowenische Kunst (Nova Arte Eslovena), um controverso colectivo político e artístico que, entre outros, criou um Estado virtual, sem território físico, mas com cidadãos titulares de passaportes e com consulados em várias cidades da Europa. A estética musical dos LAIBACH tem vindo a sofrer alterações de década para década. Os seus 35 anos de carreira começaram na música industrial no seu estado mais puro e virginal. Os anos 80 foram, pois, marcados pelos ritmos e percurssões maquinais e fabris, vocalizações graves e coros wagnerianos, onde nem sequer faltaram versões dos Rolling Stones, Queen e Opus (com os LAIBACH a interpretarem “Life Is Life” de uma forma subversiva, transformando aquele êxito numa marcha militarista triunfal) e o álbum “Let It Be”, dos Beatles, a ser versionado na sua totalidade. Nos anos 90 a banda experimentou as electrónicas e, posteriormente, a fusão destas com as guitarras de riffs pesados, num álbum intitulado “Jesus Christ Superstar”, que acabou por influenciar toda uma nova corrente de bandas e de miscigenações de estilos. “WAT” de 2003, “Volk” de 2006 e “Spectre” de 2014 são já álbuns de pura sofisticação, com sonoplastias técnicas do mais fino recorte, temas fenomenalmente escritos e produzidos, de crítica política/social afiada e inteligente, mordaz e incisiva, que nos continuam a mostrar uma banda com um vastíssimo manancial e arrojo estético, materializado com todo o seu esplendor nas suas estupendas prestações ao vivo. A propósito do concerto dos LAIBACH na Tate Modern em Londres – a galeria de arte moderna mais visitada do mundo – escrevia o jornal The Guardian o seguinte: “Laibach at their best blur art and confrontation”. Portanto, a arte e o confronto como um todo indivisível. Não há outra banda assim…

29 AGOSTO:
AGENT SIDE GRINDER – 01h30 – palco corpoOs AGENT SIDE GRINDER chegam-nos de Estocolmo, Suécia para encerrar o EM2015. Juntos desde há dez anos, o quinteto, dá corpo aquela que é uma das mais empolgante e apelativa banda de post-punk de reminiscências industriais da actualidade. Os espólio criativo dos AGENT SIDE GRINDER começou a ser erigido com o álbum homónimo editado em 2008, ao qual se seguiu, em 2009, “Irish Recording Tape”, dois discos que traçavam, desde logo, a personalizada caminhada do grupo, mas onde pairava, ainda, uma certa aura experimental. Estas duas obras iniciais foram suficientes para que o colectivo ganhasse uma reputação crescente por toda a Europa. Mas foi com “Hardware”, o disco de 2013, que a banda revelou uma capacidade expansionista, quer em termos estéticos (mais apurados e estilizados) quer em termos geográficos (a aclamação extrapolou a do velho continente) arrebatando o título de “álbum do mês” na Vice Magazine e aparecendo nas listagens de melhores discos do ano em publicações como a Time Out Paris – vindo mesmo a ganhar o “Manifest Award” (os Grammy indie suecos) de melhor álbum “synth” de 2013. Os AGENT SIDE GRINDER já “andaram na estrada” com nomes como Cold Cave ou Suicide. Ao vivo, a excelência da banda reforça-se e cresce substancialmente. A presença de Kristoffer Grip em palco, com uma postura verdadeiramente carismática, não deixa absolutamente ninguém indiferente. 2015 verá a luz de “Alkimia”, o novo álbum da banda e também, finalmente, a sua estreia ao vivo no nosso país. 

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