BARBAROSSA UMTRUNK & PALE ROSES - "La Clarière des Eaux Mortes", Old Europa Cafe - OECD 174CD, limited edition, digipak (França), 2013
Raoul de Warren foi um escritor arstocrata francês do século XX, que se notabilizou na área da historiografia e da genealogia. Advogado, foi presidente da Comissão Nacional para a entreajuda da Nobreza Francesa, o que de certa forma estipulava de imediato um certo carácter para a sua escrita – elitismo, identidade nacional, em suma, “Vieille France” pura e dura. Mas de Warren foi muito mais que isso; à parte a sua longa bibliografia de Genealogia, História da Monarquia Francesa e Heráldica, área em que acumulou o cargo de secretário-geral da Federação Francesa de Heráldica, de Warren foi um criativo romancista do mistério e do oculto. A natureza por vezes ostensivamente iniciática da sua obra remete para a dimensão de história oculta que frequentemente condimentou o imaginário nobiliárquico francês nas extensas zonas de província, onde a beleza natural ganhou sempre contornos anímicos, mágicos e até mediúnicos/xamânicos.
Raoul de Warren foi um escritor arstocrata francês do século XX, que se notabilizou na área da historiografia e da genealogia. Advogado, foi presidente da Comissão Nacional para a entreajuda da Nobreza Francesa, o que de certa forma estipulava de imediato um certo carácter para a sua escrita – elitismo, identidade nacional, em suma, “Vieille France” pura e dura. Mas de Warren foi muito mais que isso; à parte a sua longa bibliografia de Genealogia, História da Monarquia Francesa e Heráldica, área em que acumulou o cargo de secretário-geral da Federação Francesa de Heráldica, de Warren foi um criativo romancista do mistério e do oculto. A natureza por vezes ostensivamente iniciática da sua obra remete para a dimensão de história oculta que frequentemente condimentou o imaginário nobiliárquico francês nas extensas zonas de província, onde a beleza natural ganhou sempre contornos anímicos, mágicos e até mediúnicos/xamânicos.
Entre as
suas obras mais conhecidas estão “ O enigma do morto-vivo ou o Mistério da
Natividade Juliana”, “A Besta do Apocalipse”, “ A Aldeia Assassina”, “Gelo e
Neve, Deus seja Louvado”, “A Clareira das Águas Mortas” e “ As Portas do
Inferno”, entre outras. E é exatamente sobre esta penúltima, “A Clareira das
Águas Mortas” que recaiu a escolha conjunta dos projetos franceses PALE
ROSES e BARBAROSSA UMTRUNK, para um título de álbum homenagem à
figura de Raoul de Warren.
E em boa
hora chegou, numa altura em que toda a mística da Tradição Europeia parece
esboroar-se sob o “Europa-masterplan” financeiro de origem duvidosa que nos
consome, como metáfora da imagem da própria União Europeia, também ela transformada
em clareira de águas mortas…
Os PALE
ROSES serão menos conhecidos no nosso país do que os já “lendários” BARBAROSSA
UMTRUNK; o trio de Arnaud Spitz é uma aposta de surpreendente
qualidade, numa expressão musical folk ou por vezes neo-clássica, assente sobretudo
através do uso de pianos, cordas e flautas, o que parece quere fazer a ponte
entre o legado de Nick Drake e o misticismo iluminado dos Current 93, de tempos
que já lá vão.
A sua
homenagem a Raoul de Warren neste split
com BARBAROSSA UMTRUNK, resume-se a apenas cinco temas, que aparecem nas
entremeias dos temas liderados pelo Barão de Von S. Mas Arnaud detém
vários traços que o destacam intensamente deste quadro vivo de mistério e oculto
– uma voz que insinua apenas superficiais influências “drakeanas”, mas também
outras provenientes sobretudo de “cantautores franceses setentistas” como Leo
Ferré e sobretudo dos momentos mais calmos de Christian Decamps, dos velhos
progressivos franceses Ange, nomeadamente nalgumas passagens narrativas dessa
obra mágica dos Ange que foi “Émile Jacotey”. É curioso, porque a tonalidade
bucólica misteriosa da obra dos Ange, sobre as histórias de um velho contador
de província chamado Emile Jacotey, parece “casar” estranhamente com o ambiente
desenvolvido no presente pelos PALE ROSES e pelos BARBAROSSA UMTRUNK,
até mesmo em certas passagens da voz de Baron Von S, a persona enigmática por
detrás dos BARBAROSSA UMTRUNK.
Voltando
ao álbum, “La Clairière des Eaux Mortes”,
os BARBAROSSA UMTRUNK têm aqui a parte de leão – são 45 minutos de
adaptações de textos de Raoul de Warren, do seu imaginário fantástico,
orquestradas num registo até menos ambicioso do que aquilo a que já nos
habituaram, mormente em álbuns como “Regnum
Sanctum”, “Kosmogonie Glaziale”, “Wolf Dharma” ou mesmo nos mais recentes “Agharti” e “Der Talisman des Rosencreuzers”. No entanto, essa vertente menos
bombástica e fantasticamente minuciosa patente nas obras anteriores, não
descaracteriza o estilo BARBAROSSA UMTRUNK – as montagens sonoras estão
lá, só que mais atmosféricas, mais esfumadas entre o mistério constante das
palavras de de Warren, declamadas sabiamente pelo Barão.
Não será
talvez demais repetir a importância dos BARBAROSSA UMTRUNK no actual
panorama francês da música moderna de vanguarda – se no início eram apontados
como descendentes estilísticos de LES JOYEAUX DE LA PRINCESE e de REGARDE
EXTRÊME, o passar dos anos revelou um projecto muito mais além de tais
propostas, porque intensamente mais literário, ao passo que o interesse
histórico-jornalístico de L.J.D.L.P. poderá eventualmente ter-se datado, e a
paisagens neo-clássicas de REGARD EXTRÊME esgotado nos seus fraseados
minimalistas. Se o ceptro do industrialismo francês esteve em tempos entregue
nas mãos de nomes como ICK, PPF e NOCTURNE, pelas razões de luta e
persistência, a emergência no espaço de uma década dos BARBAROSSA UMTRUNK
é nada mais que justiça feita à imaginação quase febril de um homem que nunca
deixou de acreditar nas potencialidades da tecnologia contemporânea aliadas à
Poesia e à Tradição. O Baron Von S não tem feito outra coisa desde que o
conhecemos através da faixa “Elixir
Gaulois” na velha compilação “Brewery
in Piotrkow Trybunalski” (já aqui apreciada
há umas emissões atrás). No entanto, não está só –
acompanham-no Dru-wid Sagos, aliás Marc-Louis Questin, também o alemão Sven Phalanx
dos SCHATTENSPIEL, assim como as suas duas pequenas filhas que narram
parcialmente “Gwer Nemeton”.
Outra
ressalva a fazer é a de que, apesar do álbum, como tributo, ter o título de um
dos romances obscuros de Raoul de Warren, “A Clareira das Águas Mortas”, não
incide somente sobre essa obra; são referidos nos outros temas, livros como “Le Village Assassin”, “Gates of Hell”, “La Nativité Julienne”, visão de conjunto alimentada com o
contributo de entrega destes músicos visionários, que dão som ao que outrora só
era transmissível pela palavra escrita de de Warren.
Os 7 temas
de BARBAROSSA UMTRUNK contrastam assim de suave modo, com os restantes
cinco dos PALE ROSES, assegurando ao disco uma diversidade que é
bem-vinda, que está em perfeita sintonia com a toada misteriosa e algo
mediúnica deste tributo – temas mais doces, embora enganadores pela natureza
par do seu número de ordem (enganadores como o morto de uma das novelas de
Raoul de Warren), canções perfeitas para serões em cozinha de província, ao
canto da lareira enquanto as crianças espevitadas pelo fogo, fazem mais
perguntas sobre estórias insólitas.
Em suma,
uma excelente forma de apresentar os talentos destas duas agremiações francesas
e, em nome da preservação dos grandes nomes da cultura Europeia, fazer a
apologia de um grande escritor quase esquecido. Esquecido em detrimento da
grande mentira hollywoodesca que avassalou o mundo, mas que haverá de perder
perante o poder da palavra escrita feita pensamento, tal como a Grande Cortesã
(e o seu aliado anão) citada a propósito do livro de de Warren “La Bête de l’Apocalypse”, numa leitura
dramatizada por Baron Von S..
Os BARBAROSSA
UMTRUNK já tem mais discos na calha, dos quais se destacam “La Fraternité Polaire”, que deve estar a
sair e também o projectado split com “Le Revers Sanglant”, assim como disco
cuja preparação já foi encetada há meses e que receberá o título de “La Fosse de Babel”. Recentemente, à
falta de um saíram três, “Der Talisman
des Rosenkreuzer”, este “La
Clairière des Eaux Mortes” e o split
com os ESCUADRON DE LA MUERTE, “Bautismo
de Fuego”, mais uma vez dedicado à poesia e misticismo de Miguel Serrano.
Como se vê, uma operação Barbarossa que não se detém com nada. Os livros de
Raoul de Warren são editados em França pela L’Herne, soft bound paperback.
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