01. THE JOY OF NATURE - "The Girl With The Razor Waiting By The Sea" (PT) (two leaves left -
2014)
02. THE JOY OF NATURE - "The Locked King" (PT)
(two leaves left - 2014)
03. THE JOY OF NATURE - "The Boy With The Gun Waiting By The Sea" (PT) (two leaves left -
2014)
04. SAGITTARIUS - "Musa" (GER) (v.a.mit fester hand - 2011)
05. ALLERSEELEN - "Edelweiss" (AUT) (edelweiss - 2005)
06. GERHARD HALLSTATT (ALLERSEELEN) interview w. CAFÉ
EUROPA part I
07. ALLERSEELEN - "Feuervogel" (AUT) (stirb und werde - 1999)
08. ALLERSEELEN - "Auf Alten Seltnen Wegen" (AUT) (hallstatt - 2007)
09. GERHARD HALLSTATT (ALLERSEELEN) interview w. CAFÉ
EUROPA part II
10. ALLERSEELEN - "Gondelwerkstatt" (AUT)
(venezia - 2001)
11. ALLERSEELEN - "Die Klänge" (AUT) (rauhe schale - 2010)
12. ALLERSEELEN - "Cordon Dorado" (AUT)
(edelweiss - 2005)
13. DER ARBEIT - "Flama" (ARG) (v.a.mit fester hand - 2011)
14. CHANGES - "Don Quixote" (USA)
(men among the ruins - split w. Allerseelen
- 2006)
15. DARKWOOD - "Caucasian Tales" (GER)
(ins dunkle land - 2009)
16. DARKWOOD - "Silence At Night" (GER) (schicksalsfahrt -
2013)
17. TERRA OCA - "Dark Chaos"
(PT) (v.a. dark ambient vol. 4 - 2012)
18. THE LEGENDARY PINK DOTS - "Chemical Playschool 16 Part 1"(GB/NED) (chemical playschool volumes 16 & 18 - 2014)
Chegados ao terceiro
dia do Entremuralhas, depois de uma muito bem conseguida jornada na véspera,
estes vossos repórteres de serviço ao Café Europa estavam mais que motivados
para os três concertos do cartaz que mais diretamente lhes diziam respeito, no
cumprimento isento das suas funções. A saber: os Darkwood, os resilientes
Legendary Pink Dots e, mais especificamente, o dos austríacos ALLERSEELEN. Depois de outra prestação
memorável, apenas comparável à de Andrew King no dia anterior, e após uma boa
meia hora de descanso dos artistas, subimos de novo à ala da varanda Real do
Castelo de Leiria, a única vez nesta edição do Entremuralhas. No ano anterior
tínhamos aí entrevistado Lloyd James dos Naevus, assim como os italianos Roma
Amor. Recolhidos nas salas adjacentes, pela simples razão de que as mesas aí
existentes em 2013, tinham sido retiradas, escolhemos a vista sobre Leiria,
junto a uma das janelas envidraçadas, com dois bancos de pedra em cada lado.
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Allerseelen |
Connosco estavam
Gerhard Hallstatt e a sua nova secção rítmica nos ALLERSEELEN, a baterista Kriestin e a baixista Noreya. Logo que
sentados em bancos de espuma de uma conhecida marca de cidra, os mentores desta
entrevista praticamente saltaram para esta conversa com o autoproclamadamente
galante gesto de primeiro salientar e apresentar as novas integrantes dos ALLERSEELEN. Risos e piadas à parte,
mesmo que o ridículo da situação desse mote de boa disposição, relembrámos
apenas o nosso percurso de conhecimento da música dos ALLERSEELEN, desde os tempos de uma anterior encarnação do Café
Europa, em que descobríamos nas compilações “The Pact” um velho tema de 1999, e
anos mais tarde, já no século XXI, nos reencontrássemos perto de Sintra, no
auditório do Museu Etnográfico de São Miguel de Odrinhas, para a apresentação
ao vivo do duplo álbum “Flamme”, disco marcante na totalidade da discografia do
grupo. A partir dessa noite de 1º de Novembro de 2003, os futuros membros do
Café Europa encetaram um longo trabalho de pesquisa, focado sobretudo na
recuperação do catálogo de fundo da discografia ALLERSEELEN. Há três anos, Gerhard esteve em Aveiro, acompanhando
os Àrnica num inesquecível concerto numa conhecida sala no centro da cidade,
passagem que ficou marcada também pela calorosa saudação dos intervenientes.
Cem anos depois dos factos de guerra, parece que nos continuamos a encontrar
“on the road”.
Avançando para as
questões, parece que os ALLERSEELEN
refrearam recentemente o seu ímpeto de lançamentos que caracterizou grande
parte da primeira década de 2000 – o último de originais, “Rauhe Schale” foi já
lançado em 2010! Estaremos já próximos de ter notícias dos ALLERSEELEN na frente de gravação? Gerhard confirma que têm estado
muito ocupados com trabalhos de estúdio para o próximo disco de originais que
deverá sair em 2015, com o título de “Terra Incognita”, e para o qual já
gravaram sete temas, faltando trabalhar em três mais, que estarão prontos no
outono ou inverno, O lançamento está previsto para a primavera ou final da
primavera do próximo ano.
A nova secção
rítmica será uma das novidades absolutas em gravações de estúdio com os ALLERSEELEN; o baixo de Noreya já está
misturado nos temas gravados, faltando agora a gravação dos tambores de
Kriestin; no passado, os registos do grupo usavam outro tipo de percussão e vai
ser necessário incorporar o som dos tambores na sua sonoridade característica.
Para eles tem sido um novo passo e um desafio, assim como o será para o ouvinte
de ALLERSEELEN. Uma aventura, já que
o grupo começou há muitos anos como um projeto solo; Gerhard confessa que
sempre foi muito individualista, no modo de fazer muitas coisas só à sua
maneira. No decurso do tempo, enquanto se processavam mudanças, fazer
digressões com pessoas reais (assim como gravar discos) torna-se algo de muito
próximo, conhece-se melhor as pessoas, mas essa mudança pode estar de acordo
com o título do próximo álbum – ainda é tudo “Terra Incognita”. Não é como se
os ALLERSEELEN estivessem a fazer a
mesma coisa há anos – e remete-nos a questão – estivemos a vê-los há onze anos,
em Odrinhas, e pode-se constatar que este final de tarde, musicalmente, foi
completamente diferente. Daí ele mesmo estar curioso em relação a como o novo
álbum soará, e assim sucessivamente, o que o motiva a questionar-se como soarão
daqui a três ou dez anos.
Aqui impõe-se a
questão sobre este recente recrutamento de uma secção rítmica inteiramente no
feminino. A baixista Noreya revela que se juntou ao grupo em Junho de 2012,
seguida de imediato pela baterista Kriestin. Não restando dúvidas sobre o facto
de a música dos ALLERSEELEN ter sido
sempre muito rítmica, e escutar duas mulheres construindo a base dessa mesma
música, surge como uma boa surpresa – e bem o provaram no palco das ruínas da
Igreja da Pena. Noreya não o considera exótico para si, dado estar habituada a
tocar anteriormente em bandas que tanto iam do jazz ao death ou black metal.
Parece-lhe que enquanto mulher, nada de peculiar encontra no facto de tocar material
rítmico forte em palco; e Kriestin partilha também desta opinião, acrescentando
que em palco está sobretudo a cumprir o seu dever de trabalho com a banda e
antes tocou igualmente em bandas semelhantes às referidas pela baixista,
portanto nada de surpreendente nessa perspectiva. Em relação ao som ALLERSEELEN, gosta mesmo de, após
algumas canções entrar na atmosfera e ficar numa espécie de transe. Há seis
anos que conhece a música de Gerhard, que encontrou pela primeira vez na
Holanda e sendo ambos austríacos, estabeleceu-se um elo entre si e fê-la
interessar-se mais por ALLERSEELEN e
daí passaram-se a encontrar com mais frequência até que se juntou ao grupo.
Voltando à
conversa com Gerhard, tendo em conta os lançamentos recentes mais marcantes,
como por exemplo “Hallstatt”, “O Barco do Vinho” e “Rauhe Schale”, será que os
devemos considerar discos de transição, tendo em conta não só a sua fase mais
primitiva de sonoridades mais experimentais, como também a obra “Flamme”,
talvez o disco de transição mais eficaz da sua discografia? “Flamme” foi um
disco muitíssimo inspirado pela Península Ibérica – nessa altura estava a
passar algum tempo em Espanha e isso perpassou para a música, sendo
definitivamente o disco mais hispânico dos ALLERSEELEN.
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Allerseelen w Cafe Europa |
É um pouco como
páginas de um diário. “Hallstatt” refere-se concretamente ao topónimo da vila
do mesmo nome, donde Gerhard sublinha a manifestação folclórica ancestral dos
crânios pintados com flores, local de grande beleza geográfica onde passou
parte da infância e onde tematicamente reuniu temas de infância, a morte, muito
folclore, numa combinação muito pessoal. Mas sobretudo muito folclore. Já “Rauhe
Schale” espelha o seu amor pelas montanhas e pelas paisagens altas e selvagens,
tal como algumas que encontrei em Portugal, e espero muito breve revisitar
esses belíssimos lugares a que os penafidelenses Sangre Cavallum gostam de
chamar de “Pátria Granítica”, por isso a transcrição física de “Rauhe Schale”
pode ser lida como um conceito de exterioridade, simbolicamente como se uma
pessoa aparentasse ser extremamente dura por fora mas que por dentro tem um
núcleo, um coração que é suave.
Kriestin e Noreya
acrescentam que também acham o nosso país interessante embora talvez parecido
com Espanha, apesar de as pessoas serem diferentes, para lá da língua; em
Espanha são capazes de entender algumas palavras das frases em Espanhol mas
connosco é mais difícil. Sublinhamos que na essência as diferenças linguísticas
não são assim tão gritantes, talvez que os Portugueses tenham um acento bem
mais suave e discreto que os Espanhóis que são mais extrovertidos na sua
comunicação oral, falando mais, mais alto e mais rápido que nós. De resto,
estas impressões não serão de admirar uma vez que ao cabo de uma semana de
permanência no nosso país ainda seja cedo para alguém realizar bem as
características culturais e anímicas de um povo, cada vez mais diluídas na
diversidade cultural e étnica que quem nos governa tão acerrimamente defende,
sabe-se lá em nome do quê!
Voltando à
conversa, e já que Gerhard falou dos “nossos” Sangre Cavallum, a propósito de
colaborações, estão previstas mais algumas para breve? No momento, não há para
já planos para mais colaborações por isso têm tentado concentrarem-se ao máximo
nas gravações enquanto ALLERSEELEN,
mas há, no entanto, planos para reeditar uma gravação que está intimamente
ligada à passagem por São Miguel de Odrinhas em Sintra, o há muito esgotado e
lendário ep “Pedra” lançado em 2003 pela nacional Terra Fria, só que agora
acrescido de mais alguns temas novos, em parceria com alguns membros de outras
bandas conhecidas, mas não será uma compilação, antes um lançamento em nome de ALLERSEELEN mas com a colaboração de
membro de grupos como os Changes – Gerhard confessa a sua admiração pela voz de
Robert N. Taylor - em pelo menos dois temas. Sublinha que é uma altura de
abertura para a essência do som ALLERSEELEN,
havendo mais gente envolvida, com o acréscimo de baixo e guitarra, violino, e
de de vez em quando, algumas guitarras elétricas. Aproveitamos para saudar o
regresso de Robert à Europa e ao convívio das bandas folk europeias.
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Allerseelen |
Voltando um pouco
atrás no tempo, em que ALLERSEELEN
eram sinónimo de música ambiental ctónica, foi aí que começou a desenvolver-se
a técnica característica de samplar
pedaços de música orquestral diversa e combiná-los de forma completamente nova
e imprevisível. Olhando para trás, parece que o seu trabalho, assim como de
outras bandas compatriotas austríacas como Albin Julius e os Der Blutharsch ou
Jürgen Webber e os Novy Svet, parece que as bandas oriundas do seu país se
submeteram a um processo engenhoso de criarem novas vias para melhorar o método
do ready-made. Perguntamos se ele tem
essa consciência de ter sido não um pioneiro mas um inovador nessa forma de
produzir a moderna música popular na Europa. Curiosamente, Gerhard parece
perscrutar-nos com os olhos a propósito desta questão, o que nos leva a rematar
em jeito de esclarecimento da questão, que a citação se define pelo autêntico
estabelecimento de uma espécie de triângulo musical austríaco que se
desenvolveu a partir dos meados da década de 90 do século passado. De repente,
a sua reação denota que a nossa pergunta não tem agendas escondidas e concorda
inteiramente com essa noção pretérita de triângulo de música moderna na Áustria
– se calhar ainda o será. Refere que de vez em quando ainda encontra Albin mas
quanto a Jürgen Webber, revela que ele desapareceu de cena. Relembramos aquele
como outro austríaco fascinado pela Ibéria e pela Espanha ao que Gerhard
contrapõe que não só a Ibéria mas sim toda a expressão românica, que se aplica
inclusive a alguns povos eslavos, concretamente nesse conceito de destino
(afinal de contas, pensamos nós, outra extensão da nossa ideia de Fado). Ele
próprio ainda tem algum sangue eslavo e os ALLERSEELEN
têm um pouco mais de dificuldade em se inserir nessa veia do destino, mas nunca
se demitem de visitar a Europa de Leste, onde têm tocado um pouco por toda a
parte. De resto Gerhard acha curiosos que sob o ponto de vista Português, os
vejamos aos três como um triângulo de influências; aliás, reforça que apesar
dessa diferença, não vê aí qualquer contradição. A essência do espírito musical
de ALLERSEELEN sempre teve a ver com
zonas remotas dos países, quer sejam numa zona de aldeias serranas em Portugal,
ou qualquer aldeia perdida nos Alpes italianos, ou nalguma distante zona rural
na Bulgária. Nunca viu grandes diferenças culturais, folclóricas e tradicionais
em terras e gentes como estas que refere. Sempre aí encontrou gente a amar a
sua terra, portanto a Cultura, a Natureza, e é por isso que um dos seus grupos
favoritos de Portugal são os Sangre Cavallum, dos quais espera ver em breve
algo de novo editado.
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Allerseelen |
Quais são os seus
sentimentos em relação ao cruzamento de uma abordagem mais telúrica presente na
sua música, com um o uso de material digital atual, dentro do contexto de uma
filosofia neotradicionalista? Haverá aí algumas contradições em termos formais
ou conceptuais aí? Gerhard responde que o que mais há de excitante neste tipo
de música serão as contradições, porque se alguém ou alguma banda segue uma
linha única e inalterável de criação, vai entrar em rota de contradição com a
natureza humana, que nunca é unidimensional –é pelo menos tridimensional, e
isso sabe-o através da sua música e pelos seus acompanhantes. Todos têm
interesses diversos e por vezes é quase como se dentro de cada um houvesse três
ou quatro pessoas diferentes e usam essa quase desordem de múltipla
personalidade para criar música. É sempre útil para o músico aproveitar essas
mesmas contradições, como por exemplo os pontos de vista masculino e feminino.
Aproveitando a deixa, fica a pergunta se será possível em breve que as novas
recrutas nos ALLERSEELEN também dêem
o seu contributo de composição? Noreya refere que de momento ainda não se
proporcionou mas nunca se deve dizer nunca. Esta ideia parece-nos tão mais significativa,
dado ser este outro período transicional na vida e música dos ALLERSEELEN. Gerhard concorda,
acrescentando que tudo se inclui num processo constante de inspiração emanado
das pessoas e dos locais onde vão tocando, tal como por exemplo se sente
inspirado até pelas perguntas que lhes fazemos. Há dois anos ainda não faziam
ideia como o futuro álbum “Terra Incognita” soaria junto das pessoas, mas hoje
tiveram a oportunidade de o confirmar e por isso estão mais confiantes sobre o
futuro.
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Gerhard Hallstatt (Allerseelen) w Cafe Europa |
Já que falámos nos
Sangre Cavallum, parece óbvio que a experiência musical no álbum “O Barco do
Vinho” foi mesmo muito bem-sucedida; mais tarde, sucedeu o mesmo com os
norte-americanos Blood Axis no duplo álbum “Born Again”; na sua opinião, o que
se passará com essa banda Portuguesa e com a sua base geográfica, que parece
ser tão aliciante para projetos internacionais colaborarem com eles? Com os
Sangre Cavallum, Gerhard partilha o amor pela pré-história, pelas paisagens
rurais e montanhosas arcaicas, assim como naturalmente pela simpatia pessoal e
por isso tratou-se de uma colaboração deveras interessante, traduzida pelo
acabamento final de “O Barco do Vinho”. Refere ainda as viagens pelas zonas de
interesse monolítico à volta de Penafiel e nas restantes paragens do Norte de
Portugal, onde viu os seus favoritos espigueiros e onde também encontrou Johann
Aernus dos Karnnos, todos boa gente pelos quais adorou conhecer melhor essas
paragens portuguesas, e onde decidiram fazer um trabalho conjunto inspirado
pelo vinho. Viajou também pelo Sul, nomeadamente no Alentejo, onde visitou os
cromeleques de Almendras, embora não conhecesse tanto como a norte, mas gostou
bastante. E no decurso desta conversa, Gerhard relembra que em princípio iá
regressar a Portugal já em Novembro, de novo com os amigos hispânicos Àrnica, e
de novo na cidade do Café Europa, na mesma sala junto à ria, onde já atuaram em
conjunto. A segunda boa razão para regressar a Portugal é o convite que teve de
amigos em Colares, Sintra, para fazer uma exposição das suas fotografias numa
galeria, fotografias essas subordinadas ao tema da ferrugem, uma das suas
palavras de sonoridade favorita na língua portuguesa. São fotos relacionadas
com a estação outonal, focando paisagens que conotam a ideia de ferrugem por
analogia com os tons de outono.
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Darkwood |
Voltando aos
lançamentos de discos, cada vez que os ALLERSEELEN
lançam uma compilação, sugerem deveras sentir um grande respeito pelo ouvinte e
combinam o alinhamento dessas mesmas coletâneas de uma forma que mais parece um
novo álbum, repescando não só os temas fulcrais de álbuns que marcaram uma
época, mas indo buscar material esquecido ou até mesmo inédito. Não é comum tal
atenção e parece ser o sinal de uma mente engenhosa. A sua escolha variada
deriva do facto de ser muito autocrítico com as suas canções, ou de ter uma
canção que mesmo arredada no tempo teve uma mistura com pormenores
interessantes e por isso merece figurar entre outras menos conhecidas,
eliminando a possibilidade para outras das quais não gosta assim tanto.
Relembramos o caso do álbum “Cruor”, que aparece na listagem oficial como uma
compilação de material antigo, mas o qual na altura da sua reedição em vinil
parecia mais um disco de originais. Gerhard admite gostar mais da versão em
cassete, por ser mais pura; era uma recolha baseada nas gravações em cassete,
mas somente o formato em fita mantinha essa essência mais tradicional. De
qualquer modo está longe de ser uma das suas preferências em relação ao seu
trabalho propriamente dito. Já em relação a “Edelweiss”, aponta para material
bem mais novo, feito com uma inspiração italiana, mas não deixa de ser uma
compilação. Aos nossos olhos e ouvidos, todos estes discos acabam por ganhar um
estatuto próprio que lhes confere um estatuto de álbum e não de mera recolha de
material avulso ou previamente editado. Uma marca de água dos ALLERSEELEN.
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The Legendary Pink Dots
Photos by : AF
Interviews Photos by: JV |
Mudando mais uma
vez de assunto, e a propósito de uma experiência pessoal em tempos realizada
numa viagem ao castelo cátaro de Montségur no Sul de França, na região de
Ariège, relatamos o nosso interesse em descobrir os escritos do investigador
alemão Otto Rahn, os quais posteriormente acabámos por comparar aos de Gerhard,
nomeadamente na recolha dos cadernos Aorta que viu a luz da publicação, sob a
forma do livro Blutleuchte. Nessa altura chegámos à conclusão de que ele
poderia muito bem-estar qualificado para seguir em frente escrevendo na mesma
veia e áreas temáticas que o malogrado oficial da Ahnenherbe, capaz de dar
seguimento aos temas da Tradição que permanecem ocultos para grande parte da
consciência europeia. Vai haver sucessor para Blutleuchte? O seu plano é o de
um dia publicar os seus diários de viajem – uma vez que é essencialmente um
músico viajante, dá-se ao trabalho de estar sempre a tomar notas sobre os
sítios por onde passa, e daí que talvez inclua também algumas das suas
fotografias, ou mesmo um cd, para completar um gesamt kunstwerk
agradável sob todos os ângulos, combinando texto, música e fotografias. Mas
deverá ainda levar algum tempo – de momento está mais interessado em somente
gravar música; ainda gosta de escrever mas presentemente a música é o seu
grande prazer.
E para encerrar
esta longa conversa, uma questão final para as duas mulheres da secção rítmica
– o que acham do Castelo de Leiria, do festival, do concerto e concretamente da
organização da Fade In; Kriestin confessa gostar imenso deste castelo e quando
soube que aí tocaria ficou bastante bem impressionada, e ainda mais quando
tomou conhecimento in loco do local exato do concerto – as ruínas da Igreja da
Pena, que achou maravilhosa. Quanto à organização, foi boa – é gente sempre
muito ocupada, trabalhadora, mas permanecem tranquilos, uma qualidade que
realmente aprecia, são muito prestáveis, fornecendo sempre as informações a
tempo e mostrando que estão sempre lá para apoiar os músicos em tudo aquilo que
desejarem. Noreya concorda, dizendo que estão na verdade a fazer um bom
trabalho e que o podem continuar a fazer por mais dez ou vinte anos. Adora
castelos antigos por formação profissional, já que é também historiadora e
arqueóloga, e os castelos medievais são, para ela, fundamentais, porque os tem
de visitar por toda a Europa. Por isso é como regressar a casa!
Fica então a hipotese
de revermos os Allerseelen a 15 de Novembro em Aveiro na sala que Gerhard
referiu durante a entrevista, num concerto em que se reunirá aos Àrnica,
repetindo a façanha de há três anos. Neste longo rescaldo do festival
Entremuralhas, terminado já há praticamente três semanas, ficam as memórias dum
excelente concerto e entrevista com os lendários ALLERSEELEN.