domingo, 6 de julho de 2014

Café Europa Radio Show #127, 03-JUL-2014 w. ÀRNICA - "Lecho de Piedra" - Percht - 2014

01. AINULINDALE - "In Menegroth" (FRA) (the lay of leithian - 2003)
02. AINULINDALE - "The Parting" (FRA) (nevrast - 2014)
03. AINULINDALE - "Nevrast" (FRA) (nevrast - 2014)
04. ÀRNICA - "Gigante Despierto" (ESP) (lecho de piedra - 2014)
05. ÀRNICA - "Monte Nublado - Ladera" (ESP) (lecho de piedra - 2014)
06. ÀRNICA - "Uro" (ESP) (lecho de piedra - 2014)
07. ÀRNICA - "Valle de Lobos" (ESP) (lecho de piedra - 2014)
08. STILLE VOLK - "La Menense D'ours" (FRA) (Maudat- 2003)
09. EMPYRIUM - "Fortgang" (GER) (Weiland - 2002)
10. ÀRNICA - "Trazos de Sangre" (ESP) (lecho de piedra - 2014)
11. ÀRNICA - "Caminando Hacia el Sol" (ESP) (lecho de piedra - 2014)
12. ÀRNICA - "Alzada Petrea" (ESP) (lecho de piedra - 2014)
13. ÀRNICA - "Dolmen Dormido" (ESP) (lecho de piedra - 2014)
14. CADAVEROUS CONDITION - "Time" (GER) (songs for the crooked path - 2007)
15. CHANGES - "Fire Of Life" (USA) (fire of life - 1996)
16. SOL INVICTUS - "Song of the Flower" (GB) (in the garden green - 1999)
17. ÀRNICA - "Una Bestia Astada" (ESP) (lecho de piedra - 2014)
18. ÁRNICA - "Caetra" (ESP) (lecho de piedra - 2014)
19. ÀRNICA - "Monte Nublado - Cima" (ESP) (lecho de piedra - 2014)
20. ÀRNICA - "Las Plumas del Cuervo" (ESP) (lecho de piedra - 2014)
21. KLAMMHEIM - "Namenlos" (GER) (heimwarts- 2009)
22. HEKATE - "Mithra's Garden" (GER) (tempeltanze - 2001)
23. AELDABORN - "A Runic Ode" (GER) (the cosmic trident - 2014)
24. AELDABORN - "Idunna, Unveiled" (GER) (the cosmic trident - 2014)

ÀRNICA




ÀRNICA



Estamos em crer que um dos trunfos dos catalães Àrnica ao longo dos últimos dez anos terá sido a sua incrível agilidade no manuseamento de uma arte tão antiga quanto o ferro – imaginar uma matriz de folk quase literalmente primitivo e fazer dele uma música que nunca cansa o ouvinte e o faz viajar pela espiral psicológica do Tempo. 
O novo álbum “Lecho de Piedra” nem por isso dá continuidade a uma qualquer abundante discografia, como a qualquer banda neofolk europeia de rápida combustão; muito pelo contrário, este é apenas o segundo álbum de longa duração, que sucede ao longínquo “Viejo Mundo” de 2009. É claro que pelo meio os Àrnica lançaram ep’s, como “Soliferro” (a meias com os siberianos Wolfsblood), ou “Mascaradas” e “Piel de Tambor”, estes dois mais recentemente, para além de contributos para compilações várias.
Entre o Velho Mundo e o Leito de Pedra, surgiu apenas em 2010 o mini álbum “Numancia”. Nesse caso, perguntará o ouvinte, será que os Àrnica são preguiçosos ou simplesmente não têm interesse em produzir e gravar música para a sua própria divulgação ou mesmo preservação? A resposta está numa das mais essenciais premissas para um projecto musical, o qual os Àrnica têm cumprido com afinco – tocar ao vivo, com uma agenda bem preenchida em muitos pontos do globo, não importando se tocam para 500, 50 ou 5 pessoas. É decerto reflexo deste amor à Arte, desta incansável capacidade antioxidante, que derivará em parte a agilidade de que falamos atrás e que remete o nome de Arnica para a linha da frente das referências actuais do puro folk tradicional feito no continente europeu neste anos iniciais do século XXI da era vulgar.
Não se poderá falar em salto ou mudança estilística de disco para disco – num universo conceptual que vive e respira da tradição positivamente exacerbada, não há lugar para grandes mudanças, ou transferências ou fusões estilísticas. Aquilo com que nos deparamos em “Lecho de Piedra” é uma reafirmação de intenções, revista e mais completa que em momentos anteriores, em que o intérprete se compenetra de um chamamento mais profundo da alma ancestral dos povos ibéricos, redistribuindo os traços musicais que os caracterizam por novas ideias que regem estas composições.
É uma forma delicada de manter o interesse no seu trabalho sem nunca se descaracterizarem e de preservarem a sua aura xamânica de intérpretes de um passado esquecido. Com a música dos Àrnica, a releitura da pré-história e das seguintes idades primevas torna-se mais que um ritual para iniciados, ou exercício de estudiosos – é um portal orgulhosamente tosco na aparência mas perfeito e natural na essência.
Enquanto nome reconhecido na cena tradicionalista, os Àrnica ocupam já nos domínios ibéricos o lugar dos silenciados penafidelenses Sangre Cavallum, que disseram adeus em 2008 com “Veleno de Teixo”; para além destes, apenas os conterrâneos Sangre de Muerdago aparentam poder ombrear com as façanhas dos Àrnica, embora aqueles se movam em paisagens mais suaves e encantatórias. Mas até a brutalidade dos trabalhos iniciais dos Arnica parece ter sido atenuada – não que tenham alguma vez enveredado pelo caminho da facilidade brutalista de certos grupos alemães como os Corvus Corax, os quais por exatamente serem alemães, se perfilaram mais perante as lógicas do mercado. E dizer que os Àrnica são os Waldteufel catalães não tem exatamente o mesmo teor de sarcasmo de afirmar que os Corax se podem tornar nos Rammstein do neofolk … O grau de entrega místico e telúrico da música dos Àrnica é total, é verdadeiramente uma música holística, uma profissão de fé na Terra e um manifesto de vida autenticamente alternativa, que apela à fuga das cidades e ao repovoamento dos campos e montanhas. Se for esse o plano tangível da próxima utopia, digamos que ele já se encontra em lenta execução e que com a marcha do tempo, os senhores que alimentam os bancos de areia movediça das urbes, a breve trecho terão de inventar novas soluções para os seus truques de ilusionismo.
Até lá, por entre sinais que anunciam o futuro, será este ritual de bombos, tambores lusitanos, bodrams irlandeses, flautas e gaitas de foles, corno de boi e hastes de veado, tinwhistles, carracas e acordeão que alimentará a Chama que alumia essa Nova Renascença Europeia a que ainda poderemos assistir, depois da infame desunião que não tardará na História – não somos nós que o dizemos, são já os próprios analistas e comentadores, que no seu mesquinho desfiar de rosários financeiros, avisam para a necessidade de se arrepiar caminho antes que seja tarde demais. Curioso é que isso aconteça cem anos exatos sobre 1914. E em “Lecho de Piedra”, como se chamam esses sinais, essas marcas? “Gigante Despierto”, “Monte Nublado”, ou “Valle de Lobos” e “Trazos de Sangre”. Ou melhor, será “Caminando hacia el Sol” ou à sombra dum “Dolmen Dormido”, que poderemos contemplar e entender melhor” Las Plumas del Cuervo”, sempre com os pés assentes no Leito de Pedra que ainda permanece ligado à Terra-Mãe.
(Texto de JCS)

Photos: AF

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