terça-feira, 20 de março de 2012

Café Europa apresenta: Camerata Mediolanense "99 Altri Perfecti"

Camerata Mediolanense: 99 Altri Perfecti
(CDS - My Castle, 2011, Itália)


Dizer que os milaneses Camerata Mediolanense seguem uma política de singles é um exagero, tendo em conta que a sua carreira discográfica já tem dezoito anos e durante esse longo período apenas lançaram seis, sendo um deles o 10 polegadas “L’Alfieri” e o outro o picture “Lago di Varese”, a meias com Les Joyaux de la Princesse. Pelo meio fica a trilogia “Inferno” e o recente “99 Altri Perfecti”. 
São dezoito anos apenas com três álbuns de originais, um disco ao vivo e uma compilação de excelências, palmarés que os põe lado a lado com os norte americanos Blood Axis, em matéria de uma política espartana de lançamentos e mais ainda na dimensão épica que reveste a sua razão de ser. Entre 2007 e o presente ficámos pendurados entre o encerramento da misteriosa trilogia “Inferno” e a apoteose do álbum ao vivo, “1800”, e espera-se vivamente que um pouco à semelhança com o que sucedeu também com os Blood Axis, a edição de um single como “99 Altri Perfecti” augure a entrada num período mais fértil da Camerata Mediolanense.
“99 Altri Perfecti” começa com um tema ambiental operático, com o elemento fulcral da voz magistral de Daniela Bedeski a marcar o reconhecimento imediato do território onde nos encontramos. Os dois temas seguintes são o novo alfa-omega da criação Camerata Mediolanense. Um crescendo quase pop, maquinal no seu pulsar irrepreensível em questão de riqueza melódica, agraciado pela percussão de outros guerreiros da primeira hora, Marco Colombo e Manuel Aroldi, deveras o primeiro sinal de que o grupo se pode encontrar no dealbar de uma nova renascença, sem se subjugarem a modas.
O tema de fecho é ainda mais ambiental que o primeiro, mas ambiental, na gramática da Camerata Mediolanense, significa rico em imagens, espiritual e poético, sustentado pela riqueza sonora invocada pelas maquinarias manipuladas por Trevor, elemento fundador. Toda esta coesão que só dura onze minutos é mais uma vez a confirmação de que a Camerata Mediolanense é um dos grupos europeus que vieram a constituir uma espécie de elite musical geradora de lendas. Alguns ficaram pelo caminho, de que são alto exemplo os The Moon Lay Hidden Beneath A Cloud, outros criaram nicho de tão grandes dimensões que começa a ser preocupante a sua manutenção, caso flagrante dos também italianos Ataraxia, por assim dizer banda-mãe da connection Renascentista da música moderna transalpina. Os Camerata Mediolanense conseguem através de cerca de 20 anos de resistência, um estado de maravilhosa crisálida, traduzindo bem o facto de que são dos derradeiros bastiões dessa corte europeia de tradição, de que tão bem falava Otto Rahn. Se fossem de pedra, mármore e alabastro, não chegavam…
(Texto de João Carlos Silva)

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