terça-feira, 20 de março de 2012

Café Europa apresenta: Triarii "Exile"

TRIARII – “Exile”
CD / Eternal Soul, 2011
 

Os TRIARII são alemães e recebem o nome com base na elite de soldados que constituía a última linha de defesa numa legião romana, manobrando o pilo como ninguém. Bom, com esta linhagem, estes alemães parecem passar-se antes para o campo inimigo do que seguir a tradição hirsuta dos bárbaros Germanos. É tudo uma questão de civilização, uma questão de primazia e – diga-se – elitismo imperial. Qualquer semelhança com o presente estado de coisas já começa a soar a subversão europeia. Piadas à parte, este Exile, 4º trabalho dos TRIARII, não só traz mais daquilo que os eleitos gostam, como comprova como nunca antes as ambições imperiais de uma certa facção germânica na música industrial-militar.
Mas façamos um sumário da actividade discográfica do projecto que afinal não passa de outra “one man’s band”.
Surgidos na leva germânica de 2004, em que de repente nomes como Feindflug, Wappenbund ou Kreuzweg Ost, só para citar alguns deste anschluss musical, tomavam de assalto algumas ondas ainda hertzianas, os TRIARII marcaram presença com um cartão-de-visita duplo para as futuras sonoridades bélicas, materializado pelos EP’s “Triumph” e “Imperium”.
Com semelhante ataque, a destreza algo repetitiva mas heróica dos TRIARII concretizou-se em pleno no lendário álbum de estreia “Ars Militaria”, onde reinavam doze faixas do mais puro militar-pop por excelência, com camadas e camadas de toque de caixa e cordas orquestrais épicas, a dar corpo às várias e contagiantes marchas e fanfarras, aqui e além pontuadas por vozes históricas e breaks com mais noise.
Em Maio de 2006 sai “Pièce Héroique”, no qual TRIARII se mantém marchando nos trilhos do militarismo épico, talvez só um pouco mais dançável em momentos, assegurando a sua posição no pavilhão marcial-pop, combinando temas bombásticos e neo-clássicos, curiosamente mais tarde reeditados com remasterização de In Slaughter Natives, o que dificilmente passaria por uma certificação de “dança”. 2008 é o ano de “Muse in Arms”, em que Christian Erdmann, nome do mentor central do projecto, eleva a fasquia militarista mais alto, soando como vento seco de Inverno sobre a chama da Tradição Europeia para melhor a reatear. Sons de maquinaria e construção sugerem a antecâmara do teatro bélico, e acentuam a tal tendência imperial que já se adivinhava nos primeiros movimentos. Esse evidente equilíbrio musical começa a dar rosto às influências principais que se revelam como mais suecas que germânicas. É só adicionar ao rigor dos Arditi a elegância perversa dos Ordo Rosarius Equilibrio antigos, espalhando bem o preparado de base mais assustador dos referidos In Slaughter Natives, e está achada a fórmula que lhes deu génese. É o mínimo de redutibilidade com a qual podemos responder a semelhante invasão imperial, com as devidas distâncias.
De volta a este mini LP “Exile”, apercebemo-nos de que em 2011, o próprio Erdmann acusa o efeito da progressão de um modo subtil, eliminando exercícios menos estáticos, conferindo aos sete temas uma dinâmica de nexo narrativo e uma coesão musical decididamente bem tecida e orquestrada. Esse aperfeiçoamento digamos “mais certinho” faz-nos questionar a sobrevivência e manutenção deste género. Até que ponto os criadores do som militarista podem tornar o seu produto mais apelativo e por assim dizer mais normalizado pelas leis da concorrência? O cluster do eixo germano-escandinavo entrou ou não na rota da competitividade de mercado? A julgar pelas escapadas quase grind dos sueco-finlandeses Karjalan Sissit, até parece que não, mas na realidade os nomes que sobressaem do underground não aumentaram muito em número, mas na lama das trincheiras há gente impaciente, sobretudo para cá da linha Maginot. Desse modo, aparenta ser fácil aos TRIARII conquistarem mais espaço vital que ainda não é terra queimada, porque têm a seu favor os ventos do reconhecimento da equipa ganhadora que se completa com J. Hauvukainen, o homem por detrás do nome In Slaughter Natives.
Não há aqui sombra de ligeireza, nem sombra de sentido de humor corrosivo (como encontrávamos nos discos dos austríacos Kreuzweg Ost) ou mesmo de obstinação tecno, como os compatriotas Feindflug tão bem sabem fazer. A teatralidade triunfal do som em “Exile” é quase retrato fiel do estado actual da imagem projectada pela Alemanha sobre os seus congéneres europeus. Não há saída e não há soluções operacionais – apenas o triunfo ou exílio das nações. Ou tudo permanece como está, estéril e esterilizado, ou tudo cai, mesmo sem invasão bárbara às portas de uma Roma germanizada, como um castelo alto de cartas marcadas. Políticas de lado, “Exile” é, por conseguinte, um disco eficiente e até emocionante, mas desiludam-se os crentes num novo espírito europeu, que aqui fala mais alto a lei do mais forte. A guarda pretoriana da música industrial-militar não contribui para conspirações palacianas, mas seria bem-vindo que usasse mais as suas armas de vingança nos artesãos da desmobilização social e cultural da União, em mais um Inverno do nosso descontentamento europeu.
(Texto João Carlos Silva)

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