quarta-feira, 7 de março de 2012

Café Europa; Emissão #13, de 05-03-2012 "Happy Birthday Mr. Tibet"

1.ª Hora  <--- link para download 
1.                 CURRENT 93 “Jerusalém” GB
2.                 CURRENT 93 “Fields of Rape” GB
3.                 CURRENT 93 “St Petter’s Keys All Bloody” GB 
4.                 NURSE WITH WOUND “Red Flipper” GB
5.                 COIL “Fire of Mind“ GB
6.                 CURRENT 93 “Imperium I” GB
7.                 CURRENT 93 “Oh Coal Black Smith” GB
8.                 CURRENT 93 “Black Flowers Please” GB
9.                 DEATH IN JUNE   “Last Farewell” GB
10.             FIRE + ICE “Where Have They Gone?” GB
11.             SOL INVICTUS “Kneel To The Cross” GB
12.             SORROW “Let There Be Thorns” GB
13.             CURRENT 93 “Time Tryeth Truth” GB

2.ª Hora   <--- link para download
1.                 CURRENT 93 “When The May Rain Comes” GB
2.                 CURRENT 93 “Let Us Go To The Rose” GB
3.                 NATURE AND ORGANISATION “Wicker Man Song” GB 
4.                 CURRENT 93 “Lucifer Over London GB
5.                 CURRENT 93 “All the Pretty Little Horses “ GB
6.                 CURRENT 93 “It’ is Time, Only Time” GB
7.                 ANTONY AND THE JOHNSONS “The Lake” USA
8.                 CURRENT 93 “Idumaea (vocals by Antony)” GB
9.                 CURRENT 93 “Idumaea (vocals by Marc Almond)” GB
10.             CURRENT 93 “26 April 2007” GB
11.             CURRENT 93 “With Flowers In The Garden of Fires GB
12.             CURRENT 93 “Honeysuckles” GB
13.       SIMON FINN  “Jerusalém” GB

David Tibet
















A emissão 13 do Café Europa da R@dioás, do passado dia 05 de Março, foi inteiramente dedicada ao universo de David Tibet, e dos Current 93, dada a celebração do aniversário de Tibet nesse dia e porque em 2012 os Current 93 perfazem três décadas de existência.
Nascido na Malasia a 5 de Março de 1960, onde viveu até aos catorze anos, David Michael Bunting Tibet, desde cedo demonstrou o seu interesse por Aleister Crowley, o qual o levou a ser o membro mais novo da OTO (Ordo Templi Orientis) uma organização ocultista, fundada nos finais do século XIX, e que Crowley refundou em 1925. Foi à literatura de Crowley e ao seu Livro da Lei que Tibet foi buscar o nome de Current 93 para a banda que em 1982 formou com John Balance (malogrado membro dos Coil) e Fritz Haaman (membro dos saudosos 23 Skidoo). Todavia, rapidamente este passou a ser um projecto pessoal de David Tibet, funcionando, ao longo destas três, em torno de um círculo mutante de vários colaboradores.

Os primeiros trabalhos dos Current 93 (C93) encontravam-se impregnados de influências dos sons experimentais e industriais que os Throbling Gristle tinham trazido para essa nova corrente musical foram álbuns como, “Nature Unveilled”, “Dogs Blood Rising”, “In Mentrual Night” ou “Live at Bar Maldoror”, onde a participação de John Balance, John Murphy, de Steven Stepleton, dos Nurse With Wound ou Douglas P dos Death in June.  Foi um período deveras importante para a formação musical de todos eles, com colaborações recíprocas entre os projectos individuais de cada um.
Em 1986, Tibet e a sua trupe, fazendo jus ao seu nome, refugiam-se numa estância no Nepal, onde gravam o seu primeiro álbum conceptual "In Menstrual Night" no qual aborda como temas a Lua, a Menstrução e Cristo.
Nesse mesmo ano, Tibet baptiza o estilo da sua música experimental e ácida como “Apocalyptic folk”.
É após esta estadia no seu país de homónimo que Tibet começa a centralizar os seus interesses para a religião quer para o budismo tibetano quer para o misticismo cristão tendo como principais fontes inspiradoras os Evangelhos oficiais e os apócrifos e o Livro do Apocalipse. Toda a sua música nos finais dos anos ‘80 e toda a década de ’90 é impregnada desse espírito cristão e apocalíptico. Torna-se um verdadeiro devoto de Cristo de que diz ser a única manifestação de Deus no nosso mundo, assim como crê estarmos a viver aquilo que os escritos sagrados denominam de “últimos dias”e que têm surgido pequenos anti-cristos até ao aparecimento do verdadeiro que nos conduzirá ao último dia.
É nesta fase, finais dos anos ’80, que os C93 editam canções que são autênticas obras-primas, dispersas por uns quantos álbuns também eles peças de arte inigualável. Em ’87 vêm a luz do dia “Dawn” e “Imperium”, este um disco de uma beleza plácida e mística intemporal, e que seriam porta de entrada para um novo mundo maravilhoso que viria em ‘88 com dois álbuns incomparáveis e incontornáveis quando falámos não só da história dos C93, mas também da música europeia contemporânea, que são “Swastikas for Noddy” e “Earth Covers Earth”.
De “Swastikas for Noddy”, pode-se dizer ser o disco mais responsável pelo surgimento de mil e uma bandas de “apocalyptic folk” nos últimos 25 anos. Gravado entre Londres e Reiquiavique, carrega em si o código genético de folk que Tibet tinha ensaiado um ano antes com o seu camarada de então Douglas Pearce, juntos nos Death in June de “The Wörld Thät Sümmer” - a sequência cronológica entre os dois discos é flagrante e talvez mais significativa que a continuidade dada à própria discografia C93, que no ano anterior tinha brindado os seus fiéis com “Imperium”.
Ian Read (Fire + Ice)
É neste álbum que a colaboração Tibet-Douglas P.- Rose McDowall - Ian Read - Boyd Rice, entre outros, amadureceu, ao ponto de se terem tornado numa espécie de nova “family” semi-mansoniana (uma alusão que de graciosa passou a gratuita, trazendo-lhes quase sempre problemas com a vizinhança...).

Em ‘87, a guitarra acústica de Douglas dominava a maioria das canções incluídas, por vezes repetitivas e algo atabalhoadas, outras demasiado crípticas, mesmo para os que se achavam entendidos na matéria. “Panzer Rune” e “Beausoleil” eram as longas provas de fogo, mas o incrível apelo de “Oh Coal Blacksmith”, “Black Flowers Please”, “Scarlet Woman”, “The Final Church of the Noddy Apocalypse” ou “The Stair Song” estabelecia os C93 como sátiros trovadores de tempos vindouros, infelizmente sob um céu carregado de incertezas. Para animar lá estavam duas “covers” irresistíveis – “This ain’t the summer of love”, dos Blue Öyster Cult, e “Since Yesterday” das lendárias Strawberry Switchblade de Rose McDowall.
“Swastikas for Noddy”, foi reeditado nos anos 90, mas viu o seu nome alterado para “Swatikas for Goddy” devido à pressão do grupo editorial de Enïd Blyton, até porque a maioria dos distribuidores sempre olhou de soslaio aquele título, ignorando os trocadilhos humorísticos implícitos, “Swastikas for Noddy” vai permanecer na história da música popular como a acta do 1º grande simpósio de autodidactas neo-folk tornado manual de bolso dos agitadores de consciências numa futura Europa “unida-à-força”. E depois, aquele refrão cantado com dilacerante abandono nostálgico: “E enquanto nos sentamos aqui, sozinhos, à Procura de Razões para Continuar – torna-se claro que tudo o que Agora Temos são os nossos pensamentos d’Outrora ...”.
Com a criação da sua própria editora “Durtro”, Tibet inicia um período bastante produtivo que começou com “Thunder Perfect Mind" e "Of Ruine Or Some Blazing Starre", trabalhos mais orgânicos e acústicos que o som pós industrial que caracterizou as suas primeiras edições.

Do primeiro, temas como “A Beginning”, “A Silence Song”; “A Lament for My Suzanne”, “A Sadness Song”, “A Song For Douglas Afer He’s Dead” ou “When the May Rain Comes” são demonstrativas da importância que um novo elemento começa a ter no colectivo C93. Michael Cashmore, um dos guitarristas mais talentosos e influentes da actualidade, que, com Tibet, constrói um mundo sonoro alucinatório que marcarão a discografia da transição do milénio.
Na segunda metade dos anos 90 vê luz a triologia "The Inmost Light: Where the Long Shadows Fall, All the Pretty Little Horses e The Starres Are Marching Home", que, conjuntamente a todas as influências e obsessões de Tibet, contem parte das suas melhores letras e conta entre convidados com Shirley Collins e Nick Cave, que dá a voz a “All the Pretty Little Horses”.

Os trabalhos que encerram o milénio voltam a mostrar a influência de Cashmore no trabalho dos C93. São duas obras-primas, "Soft Black Stars" (apenas a piano e voz) e "Sleep Has His House" (que Tibet dedica ao seu pai). Estes dois álbuns apresentam uns C93 mais pessoais e reflectivos, abandonando o surrealismo cósmico e proclamando a sua devoção religiosa, bem como a suas obsessões: o artista Louis Wain, o novo testamento grego e o poeta Count Stenbock.
É, também desta altura o inicio da colaboração de Antony Hegart com Tibet que culminaria com a edição em 2000 do seu álbum homónimo através do selo Durtro e que o levou a pisar pela primeira vez solo nacional nos celebres concertos em 2003 no Teatro Ibérico.

A celebração do 46.º aniversário (2006) de Tibet marcou a edição de "Black Ships Ate the Sky", um álbum conceptual, marcado pelas interpretações vocais do poema de Charles Wesley “Idumea”, de diversos convidados entre os quais Anthony, Marc Almond, Bonnie ‘Prince’Billy, Baby Dee, Shirley Collins, Cosey Fanni Tutti ou Pantaleimon.

James Blackshow
“Aleph of Hallucinatory Mountain” de 2009, marca uma nova mudança na via musical dos C93, fruto do abandono de Cashmore e da colaboração de Baby Dee, Andrew Liles, James Blackshaw, Keith Wood e Alex Neilson. Destaque ainda para a participação de Rickie Lee Jones. Este é um trabalho onde a componente eléctrica adquire um maior relevo introduzindo novos ambientes na sonoridade C93.

Para a celebração do 50.º aniversário Tibet preparou a edição de “Baalstorm, Sing Omega” e a realização de exposições das suas pinturas. “Baalstorm mantém o line-up do anterior “Aleph…” bem como a sonoridade a qual se vê completada com a edição no ano passado de “Honeysuckle Aeons”.
Para além dos C93, Tibet, através da sua editora discográfica - Durtro, tem editado trabalhos de alguns dos seus artistas favoritos como são Tiny Tim, Shirley Collins, Baby Dee, Anthony and the Johnsons, Pantaleimon, Little Annie, Chris Connelly (Revolting Cocks, Ministry). Tem ainda as editoras Coptic Cat, Durtro Press e Ghost Story Press onde publica obras literárias de autores como Count Stenbock, Thomas Ligotti, David Park Barnitz ou LA Lewis. Ultrapassa já os quarenta, o número de volumes publicados em peculiares edições feitas à mão, todas elas agora consideradas como peças de colecção.
Por fim uma boa noticia a de que Michael Cashmore está de regresso ao seio da família C93 e, só nos resta desejar que de tal reunião perdure com resultados idênticos aos já obtidos e Feliz Aniversário David e continua a partilhar connosco a tua arte por muito tempo.

David Tibet

 
Steven Stepleton



(Photos by Angelo Fernandes)


Sem comentários:

Enviar um comentário